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Obras da Terra

Um Legado

Experiência fundante com a misericórdia divina surgiu a partir de um apelo.
Pelo olhar e gritos do outro, na figura de uma criança, em torno da Eucaristia, fui interpelado do outro lado do altar.
Confrontando o corpo do Senhor, em minhas mãos, e o grito de uma criança pobre do lado de lá, outra saída não tive senão mudar de lugar.
Afinal de contas, quem estava do lado de quem ou de que lado eu deveria estar?
Na verdade, transportando-me para o lado de lá, senti-me como aqueles que se sentiam lá, despossuídos de tudo o que era, então, tangível verificar-se: sem lar, sem ter “onde reclinar a cabeça”.
Partindo de um apelo, frente a um pão que estava sendo partilhado, que a minha vida com eles eu desejei partilhar.
Topológica e topograficamente, mudei de lugar.
Desinstalaram-me os apelos de uma criança pobre e as exigências de um Corpo dado (“por vós esse corpo será dado e o meu eu sangue derramado”) ali consagrado e partilhado, que uma experiência misericordiosa e fundante aconteceu.
Precisamente numa periferia social e existencial, uma mudança se deu.
Foi uma experiência? Não; foi A experiência de fundação, de uma Fundação que busca, ainda hoje, fazer, na terra, a vontade do “Pai que está nos céus”.
Assim nasceu uma fundação; assim renasci.
Nesse espaço para cujo lugar eu me mudei (os pobres me acolheram; eu os acolhi), que o novo teve lugar.
Foi essa a semente embrionária de um legado, pelo nascimento de um carisma, em meio aos pobres comunicado.
Trinta e quatro anos já se passaram.
Louvado seja o nosso Senhor Jesus Cristo.

Pe. Airton Freire
Servo Menor.
(Assis, sábado, 20 de outubro de 2018, às 20h50min, hora local)