“Desertos de fé hás de atravessar, deserto de pessoas mesmo quando aglomeradas possam estar. Quando não há mais o que se falar, desertos há. Quando tudo comunicado e nada modificado, desertos há. Deserto quando se quer acreditar e não se encontra como, nem por onde começar. Sensação repetida que ressoa distorcida, de tanto mal ouvida, a martelar, a suplicar, a querer mostrar, a querer viver, a se conter, precaver-se. Para quê? Desertos há quando em miragens se acredita. Sufocado pela solidão, sem receber nem partilhar o pão, segredos do coração, aí desertos há ou não? Por silêncios habitado ou silenciado, onde se haver? O que guardar, o que largar, se aos desertos o coração não quer ceder? Tudo tem dois (ou mais) lados. Atravess(ando) que deserto estás? Deve-se teu deserto ao que és ou ao que te tornaste desde quando então? Há, contudo, o lado luminoso da questão, avesso do que leva à profunda solidão: apesar de árido, purificador; malgrado ser de travessia, ensina na carência (forma de dor) que, permanente, na vida, só o que traz a marca do amor.” (Pe. Airton Freire)