Às 4:30 da manhã, eu me acordo.
Inicio as laudes e escuto um bem-te-vi na baraúna junto à casinha,
Como se ele tivesse razões para expressar, à sua maneira, também seu louvor a Deus.
Voltando da caminhada, percebo que ao bem-te-vi junta-se um concriz.
Há, agora, uma variação de tons e muda a própria orquestração ora intercalada ora simultânea.
Voltando a minha casa, ao meio dia, para fazer uma pausa – que eu chamo de “passagem para o turno da tarde” – há silêncio em volta.
Escuto as batidas de meu coração – tão silencioso é este lugar – e o barulho da palha da carnaubeira que serve de teto a esta casa.
Rezo a hora sexta da liturgia das horas.
Vindo a noite, já em hora avançada,
Voltando para o recinto de taipa,
É a vez de vários pássaros fazerem-se notar.
A casaca de couro é insistente.
O tetéu parece preferir viver em bandos
E a coruja, solitária, todos eles, mostram-se presentes enquanto caminho.
Quanto a mim, vou levando comigo ecos da última oração da noite, as completas.
Tenho a nítida sensação de que das criaturas parte um louvor de vozes, ruídos e movimentos em direção ao Amoroso, o Eterno, o Sublime, o Único, Invisível, mistério de Amor tão presente…
Gosto de viver aqui.
Pe. Airton Freire