Pe. Airton Freire
(Texto do Livro “A Vida Simples”)
Simplesmente beber, gole a gole, um poço dágua. Simplesmente olhar a chuva correr pelo chão, pela calçada. Simplesmente viver os dias, sem trocá-los pelas madrugadas.
Simplesmente olhar um rosto e pronunciar seu nome. Caminhar ao lado do outro, simplesmente, silenciosamente.
Alimentar o corpo, a alma e a mente com o que eles necessitam, por alimento, diariamente. Dá a todos eles labor e repouso no tempo devido. Não avançar, nem deixar etapas não concluídas atrás, de sorte que, no final, possam se preservar saúde e paz.
Agasalha teu corpo como as aves agasalham-se em seus ninhos. Tem por ele respeito e carinho. Mantém tua alma serena, mesmo na tormenta. Não deixes de dar-lhe o alimento de que necessita. Se preservada, ela te preservará nas desditas. Que vãs preocupações não ocupem teus pensamentos. Vive cada momento. És parte da criação. Não foste criado para gerar nem para viver tensões, mas para criar laços de fraternidade, fundados na justiça das relações humanas e na verdade, isso que traz paz ao coração.
Evita tanto o acúmulo quanto a dissipação. Não aceites nem causes a ninguém constrangimentos. Dissipa todo e qualquer ressentimento. Afasta-te da ilusão. Preserva corpo, alma e mente de qualquer ostentação. Não dês ao teu sim a aparência de não, mas vive, coerentemente, na alegria de tua opção.
Trata teu corpo, tua alma e tua mente de forma digna. Eles já têm seu próprio valor. Seu valor é sua riqueza. Se tratados, terão sua própria beleza; o que não lhes diz respeito, não lhes queiras sobrepor.
Vive a vida com alegria. Não sejas melancólico, como aqueles que se apegam ao fim de cada dia. Fortalece o teu élan. Sê como o sol que se levanta a cada manhã. Espanta de ti a preguiça, a cobiça ou qualquer outro mal, que fira a tua alma, entorpeça a tua mente, golpeie teu corpo afinal.
Não exijas de ti mais do que aquilo que possas dar. Se vieres a errar, a cometer equívocos, sejas tu o primeiro a te perdoar.
Vive com simplicidade, na gratuidade, com liberdade. Sê prevenido, não armado, para toda e qualquer eventualidade. Na falta, faze a confissão. Defende o perdão. Vive a autenticidade. Não desdenhes a criatividade. Cultiva a hospitalidade. Nada em ti se assemelha a vulgaridade; antes, haja em ti e aja contigo, com intensa atividade, a singularidade.
Não defendas para ti o sofrimento. Mas, se ele te ocorrer, aceita-o, sobretudo se te vier em decorrência de tua vida conseqüente. Nada faças por fingimento. Disso não faças uso nem por um momento; pois, ele vicia a alma e não a preserva de constrangimentos.
Vive a vida simplesmente. A vida simples. Naturalmente.