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“Prata e ouro não tenho” (At 3,6)
Há fascínios e fascínios.
O fascínio se torna inadequado quando perde o referencial estável que o torna possível e passível de ser bem executado. Para bem executar, não é preciso bem fazer, mas, sobretudo, ficar atento às consequências que cada ato possa ter.
O que torna o fascínio inadequado traz em seu bojo algo que possa obliterar, fechar, impossibilitar a abertura para novos conhecimentos, por perceber de forma superlativa o que é apenas um ponto de vista. O olhar, partindo de um específico lugar, não pode ver tudo no todo que diante de si está.
O que leva o inadequado do fascínio não conduz a nenhuma superação, porque, fascinado, torna-se aprisionado à visão daquilo ou daquele que o cativa, não deixando margem para outra opção. Num bloqueio do coração e da mente, tal fascínio resultaria num avassalamento, num assujeitamento, quebrando todas as possibilidades de se vir a retomar o equilíbrio onde coração e mente poderiam cooperar exatamente.
O inadequado do fascínio vem pela sua absolutização, pois, uma vez absolutizado, ao objeto percebido tornar-se-ia o sujeito assujeitado. Cativo de sua própria visão, o sujeito não terá como fazer emergir, a partir daí, uma outra possibilidade que não seja aquela, por desconhecer qualquer uma outra que venha a questionar ou mesmo a complementar a opção primeira.
O inadequado do fascínio acontece por se perder nele qualquer referencial estável e por se tornar o sujeito preso a um determinado e determinante dado, qual se fosse um fardo.
O que fascina pode facilmente te levar a ganhar ou a perder, a depender do ângulo pelo qual tu olhas a realidade, a partir do sentido que isso para ti possa ter.
Há um sem sentido que é um desmentido ao que te faça querer viver. Pelas asas do que entorpece, embevece, mas não deixa viver. Se o preço da aprovação for a provação, ao coração convém lembrar que, estando por algo fascinado, sem que se perceba, desmontes ou remontes podem acontecer em muitos planos.
Se teu ser, por teu olhar, sentir-se fascinado, examina se isso te ajuda a compreender e a viver melhor e com verdade. Só o que na realidade tiver justa adequação é que valerá a pena continuar. Do contrário, viverás o sem sentido de apenas fascinar-te ou fascinar, sem que a termo algum isso possa te levar.
Há problema em toda fascinação decorrente de atos que te levem à submissão e não à superação de quaisquer elementos que tornem tua alma doente. Pelas consequências do fascínio, tu podes perceber se ele é ou não a ti pertinente.
Se assim procederes, a esperança, que tem nome, virá para ficar, e teu coração, de esperança também transbordado, poderá retornar ao mundo fascinado pela forma adequada como passarás a te portar. Serás, então, arauto da esperança, aquele que traduz em sua forma de vida o que contraria qualquer ânsia e desejo de desistir.
Reagir pelo que faz sentido e não fazer, da vida, atos desmentidos é preciso. Isso equivale a dizer, na esperança, estou aqui.
Pe. Airton Freire