“Tu tens dentro de ti certas moradas, espaços interiores que, se bem cuidados, poderão te levar a profícuos resultados. Todavia, estando desencontrados, tu te perceberás sem rumo, fazendo e desfazendo, dizendo ou desdizendo o que, em situações normais, não te permitirias jamais. O teu espaço interior precisa, a todo custo e valor, ser mantido, preservado; ele é semelhante a um rio que está ligado à fonte: se perder esse contato, não tem mais de que se alimentar. É como aquele que traz consigo um certo encanto e, perdendo também o contato com o que o encanta, não sente mais por que continuar. O teu espaço interior pode ser motivo de satisfação, alegria, sofrimento, dor. Por isso, chegado ao ponto em que tu estás, olhando os meses transcorridos, tudo o que ficou para traz, tu poderias te perguntar: afinal de contas, onde reside atualmente meu maior encanto? O que responde por certos desencontros ou desencantos? O que poderia ter sido melhor aproveitado? De que meu coração se sente todo saciado? O que ainda eu busco e não tenho encontrado? Afinal de contas, a tua morada interior, se for bem preservada, poderá também ser espaço onde tu encontrarás o sentido para persistir, mesmo nas quedas ao longo da jornada. Por isso, reserva esse espaço de tua sacralidade para um tempo de exclusividade com o teu Senhor. Se, em razão dos afazeres da tua vida, isso for descuidado, tu te perceberás sedento, sem que nada a tua sede possa aplacar e, como que distraído ou de ti mesmo esquecido, não encontrarás espaço nem mesmo onde acreditavas ser teu lugar. Deserto de pura aridez, começarás então a atravessar. Conserva o teu espaço interior, a tua morada, que por nada nem por ninguém seja ela violada; mas, com toda tua defesa, seja ela preservada.” (Pe. Airton Freire)