Primeira Leitura: 2Cr 36,14-16.19-23; Salmo: Sl 136; Segunda Leitura: Ef 2,4-10; Evangelho: Jo 3,14-21.
“Diariamente tu és desafiado, interna ou externamente, a manifestar aquilo em que tu crês de verdade. Diariamente tu és desafiado, em situações as mais diversas, para retificar ou ratificar certas atitudes que a ti se apresentam, que tu abraças ou que tu contestas.
Por vezes, tu te percebes desejando realizar o que intimamente não aceitas, mas como que compelido a praticar. Isso revela em ti uma fissura, uma brecha por onde algo desconhecido ultrapassa e cumpre uma função que mesmo não sabes aonde ela te levará. Por isso, é preciso que tu estejas atento às coisas a que tu és movido a partir de dentro, porque nem sempre tu estás realizando o que intimamente estás querendo. E outras vezes tu te percebes desejando o que, pessoalmente, não era isso que estarias pretendendo.
Tu és um ser que se apresenta dividido. Por vezes, realizas o que intimamente não admites e, por vezes, admite coisas que no íntimo não era o que estavas querendo. Por isso, tu és observado, tu és desafiado, e há certos acontecimentos que te põem à prova acerca do que tu tomas como verdade.
A verdade é mais do que fala: a verdade se revela no estilo pelo que tu acreditas. A verdade não é algo a ser provado matematicamente, mas algo a ser expresso fielmente; pois, tu encarnas ou não encarnas, tu desfiguras ou transfiguras, aquilo que tu dizes crê finalmente.
Tu és posto à prova para ver se certas atitudes por ti são aprovadas ou reprovadas. Às vezes, de ti se apresenta quem te queira, na verdade, observar se tu ages como tu dizes ou como tu te apresentas, ou se apenas tens uma roupagem facilmente possível de se contestar.
Se de um lado tu te percebes dividido, por vezes desejando o que nem consegues expressar e, por não expressares, tu passas a atuar, a fazer até para depois recontratar; se de um lado tu te percebes dividido, por outro lado tu és desafiado a mostrar, na verdade, se tu procedes conforme tu acreditas, e só em determinadas situações, só através dos atos é que tu irás isto apresentar. Não é questão de falar, é questão de viver. Não é uma questão de dizer que crê, é uma questão de, na verdade, viver, pois a tua vida é o teu maior testemunho.
Contra fatos não há argumento. Tu és aquilo que tu vives. Tu não és nem o que tu pensas de ti, tampouco o que os outros digam de ti, nem teus próprios pensamentos; tu és como tu vives. E como tu vives é tua carta de apresentação que vai diante de ti, mas lembra-te: em ti habita uma fragilidade com a qual é preciso tomar cuidado, porque de repente tu estarás realizando, repito, o que intimamente estarás contestando. Por vezes, te pegarás desejando o que, intimamente, não estás querendo. Habita em ti uma fissura, uma brecha que se isso não vier a ser falado tu poderás, facilmente, cair no engodo de que fazendo se sentirás realizado. Poderás, facilmente, cair no engodo de quem acredita que, fazendo, sentir-se-á realizado.
Considera o que estou te dizendo, sabes a que estou me referindo. Coisas que nem foram por ti pronunciadas, mas que se passam em tuas moradas e que podem ser retificadas (modificadas) ou podem ser ratificadas (aprovadas), e uma vez realizadas nem sempre poderão ser corrigidas no tempo adequado. Enquanto não acontece, presta bem atenção ao que está em curso. Presta bem atenção aos pontos onde residem tuas maiores fragilidades, e procura potencializar o que de melhor tu podes fazer, pois, dessa forma, o mundo irá perceber, malgrado tua fragilidade: tu és alguém que consegues transformar em bem o que poderia no mal vir um dia a se tornar efetivado.
Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo.”
(Pe. Airton)