“O que, na verdade, passa-se contigo é que, sendo tu um ser de procura, tu és passível de encanto ou desencanto, encontros ou desencontros. O que tu precisas fazer é admitir que, enquanto ser de falta, podes tanto achar quanto perder; que aquilo que te faz buscar é algo que já se inscreve dentro de ti, dizendo que isso é possível encontrar porque, em algum lugar, está a existir – ao menos, dentro de ti. O desejo mais íntimo que tu percebes dentro de ti nasceu de uma busca de vir, tu mesmo, a ti te encontrar, pois não é somente no encontro com o outro que se dá o encanto, mas, porque, ao encontrar aquele que responde também por certo encanto, tu percebes que consegues te encontrar. O encanto se produz tanto pelo encontro que remete ao lado de lá, quanto ao encanto que remete ao encontro daquele que se achava faltante do lado de cá. Sendo tu um ser de falta e em algum momento vindo tu a te encontrar, aquele que propicia o encontro de ti contigo mesmo responde pelo primeiro encanto de perceberes que tu integrado pode ser ou estar. Como um ser integrado por inteiro, tu te colocas na posição de quem é verdadeiro para, verdadeiramente, amar. Pois, enquanto estiveres dividido, o outro pode vir com todo o seu encanto, com toda a sua inteireza; tu, porém, tu continuarás dividido, um pé lá e outro cá. O encanto do encontro que o outro lado de lá venha te trazer não será suficiente para te fazer integrado, se tu próprio não estiveres, por tua vez, por inteiro no momento em que te estiver sendo dado. Por isso, todo encontro só acontece com seres que cessam de estar divididos. O que faz o encanto do encontro é que o entrecruzamento dos dois pontos fecha uma brecha dos dois lados em algum ponto e produz um encontro apesar das marcas do que, até então, tem acontecido. Mas, se isso não viesse a produzir, tu poderias te perceber imensamente sendo amado aqui e, interiormente, dividido de ti mesmo, pelo lado do outro que se coloca para além de ti.” (Pe. Airton)