De onde vem que eu sinta querer te amar em duração contínua bem maior que os anos de minha existência me permitem?
Como posso sentir que estarei contigo por um tempo superior ao que entendo viver aqui ainda?
Como posso ter a medida do teu ilimitado amor, se nos limites do espaço o tempo eu vivo e só a partir dessas categorias eu posso me situar em relação a tudo o que me chega pelos sentidos?
Como posso habituar-me saber-me em tua presença, sem, contudo, ter-te, senão através de sinais que mediam tua realidade até a mim?
Como é que fazes comigo uma aliança de Amor Eterno se não for para continuar essa Aliança quando cessarem meus dias na Terra em que me criaste?
E, enquanto persisto a interrogar-me, como o faço agora, descubro que me encaminho para que todo meu ser seja tomado por ti.
Sinto-me mergulhar nisso que guarda semelhança a um oceano sem margens, que desconhece limites de profundidade e sem fronteiras, quanto à extensão.
Preservada, contudo, minha própria identidade pessoal, sinto, nesse mergulho, que tudo em mim torna-se pleno.
E tomado dessa cada vez mais crescente e indizível alegria, silencio.
Pasmo ante a grandeza que me escapa, em muito, a tudo poder entender.
Pe. Airton Freire
(Texto do Livro “Preces ao Pai”)