“Podemos, de antemão, adiantar que a salvação que nos trouxe Jesus não foi porque lhe deram morte de cruz (Fil 2, 8), mas porque viveu para o Pai em absoluta fidelidade. Isto é, Cristo mereceu de Deus a salvação para todo o gênero humano, o que por nós próprios não conseguiríamos. Tendo vindo para fazer, em tudo, a vontade do Pai, Cristo Jesus encontrou uma tal recusa de sua oferta de amor à humanidade que outra saída, em circunstâncias tais, não havia senão aceitar a morte. Veio para o que era seu e os seus não o receberam (Jo 1, 11). Ele foi objeto de recusa, bem como a Boa Notícia que anunciava. Quanto à sua morte, aos poucos é que para Ele ia se definindo, à medida em que, mais explicitamente, fecha-se o cerco contra Ele. Foi a partir do Não ao Filho (expresso na cruz) que Deus transformou em Sim, em razão de Seu amor incondicional à humanidade. Isso é completamente diferente do que se canta em algumas comunidades cristãs: Deus enviou Seu Filho amado para morrer em meu lugar; na cruz pagou os meus pecados… Essa compreensão acerca da ação de Deus, embora bastante difundida, não corresponde ao pensamento do Evangelho de João, por exemplo. Jesus é o Sim de Deus (cf. II Cor 1, 19). A cruz, o sangue, a dor foram consequências desse Sim absoluto ao Pai. Nele a humanidade com Deus foi reconciliada. A cruz, então, antes expressão de recusa, foi transformada em sinal de salvação.” (Pe. Airton)