“Isto se experimenta na própria fala: uma coisa é o que tu queres comunicar; outra coisa é aquilo que deixas passar, mesmo sem estar percebendo, como os atos falhos, por exemplo. Outras vezes, tu queres dizer algo e dizes, exatamente, o contrário do que desejarias que o outro viesse a compreender. Em momentos assim, tu te percebes assujeitado a uma ordem, uma estrutura mediada pela fala que te torna descentrado. Outras vezes, há pessoas que, ano após ano, repetem os mesmos erros, como se caminhassem em círculos, sem encontrar saída para uma nova situação. Um fardo? Eu te digo: tu colecionarás desnecessários sofrimentos por decisões tomadas, nem sempre acertadas, em razão de certas inscrições que trazes contigo. Contudo, não foste criado apenas para repetir experiências negativas do passado, tu foste criado para a vida e a vida é a teu favor, está a teu lado. O que fazer? Precisas ter um espaço de fala pelo qual tu possas dizer do que contigo se passa, mesmo que, ao dizer, não entendas. Na fala e na escuta, poderás perceber a matriz do que te aliena e conduz tua vida por vias que fogem ao teu querer.”
(Pe. Airton)