“Um dizer que corresponda a um fato tem sido tomado como algo equivalente à verdade. Esse, contudo, é apenas um aspecto que dela se pode dizer, pois a verdade, afinal de contas, é aquilo que pela palavra plena te revelará, exatamente, o lugar onde tu estás, sem que tenhas antes percebido este lugar. A verdade é mais do que a adequação da palavra ao fato, quer resulte em autoconhecimento ou em conhecimento da realidade. Ela vem pelas vias do que a palavra plena revela do lugar onde nem sempre tu reconheces estar. De que forma não reconheces? Ao resistires a descobrir onde e a partir de que momento tu passaste a viver o que não correspondia à mais íntima verdade que há em ti. Qual verdade? A de que és um ser de falta e, enquanto faltante, demandante. E preenchimento para essa falta em objeto algum haverás de encontrar. Em assim sendo, a verdade está em descobrir-se como um ser de falta, esta gerada na ruptura do amor primevo, imaginariamente construído, e, por ele, como por uma inscrição, marcada. Essa falta, que demanda preenchimento, é a matriz de toda busca humana. Em razão disso, vive-se, por vezes, à deriva, num conflito entre o querer e o desejar. A verdade há de ser dita e falada para que o teu espaço possa ser reconhecido e aclarado, e, nele vindo a te situar, possas, a partir dali, dar novos passos, como ser de desejo, assumindo um projeto e a tua própria história, esta que, nos tempos de agora, totalmente não consegues enxergar. A ignorância quanto a esse lugar de ser errante e errático é o que nem sempre reconheces. Em razão disso, por vezes, desejas o que, intimamente, não queres e, outras vezes, queres o que, intimamente, não desejas. ” (Pe. Airton)