“Se, alguma vez, tu sentires que, por algum motivo, não vale a pena dar continuidade às coisas nas quais, durante longo tempo, tens acreditado; se, alguma vez, tu te sentires como os que se sentem à margem; se, apesar de tanto esforço, nada tem avançado e não és reconhecido, mas, ao contrário, percebes-te alijado, elidido, não aludido, iludido, cindido, dividido, trazen do de constante em ti um hiato em forma de angústia, espaço de ausência; se, algum dia, tu te sentires de ti mesmo cansado ou pesado; se o que de mais precioso em ti existe parecer não mais contar; se difícil for dizer: é preferível ficar aqui, tal seja o desejo de partir; se, em tua vida, te sentires cansado, como os que se sentem abandonado, largado; se, em ti, por um momento fores tomado de tal intenso sentimento, como se a própria luz do dia, viesse a te faltar, como se o ar não mais existisse, como se o chão abaixo dos pés não pudesse mais te sustentar, pára e pensa: afinal de contas, onde existe o maior valor, o fundamento a partir do qual tu te sustentas? Se isto, alguma vez, começar a se passar contigo, eu te digo: retorna ao encanto do primeiro encanto. Se for o teu Senhor, com certeza, apesar ou até por causa da dor, passarás por um processo de purificação, farás superações e sairás com maior maturidade. Se, ao contrário, em terreno arenoso esse teu maior valor estiver assentado, na primeira crise, na primeira tempestade, haverá de ruir de nada adiantará querer compensar possíveis sofrimentos com outros valores; pois, igualmente, estes serão comprometidos e perceberás que, mesmo com eles, não poderás prosseguir. Volta à razão do amor primeiro, antes que ofendas, num ato impensado, ao que tens de mais sagrado e te tornes dele indigno, o derradeiro.” (Padre Airton)