Nas noites em que, antes de deitar-me, vou à capela de taipa,
Nas madrugadas em que me acordo e visito vários lugares, antes de voltar,
Nas manhãs em que, sem saber como, acordo-me de joelhos na capela,
Tenho um crescente entendimento de que para além de um espaço de recolhimento e oração essa capela se trata.
Ela própria me retrata um ideal de busca de Deus, em simplicidade de coração, assim como são os pobres, meus irmãos, que o procuram e revelam-no por seu estilo de vida.
Espaço único é esse onde passo horas em oração.
Assim como a minha casinha, ela foi do barro desta terra construído, bem como eu que, “vim da terra e à terra voltarei”.
Sua madeira e coberta de palha vieram do Piaui, como a dizer que sou cidadão do mundo, embora às margens de um afluente do rio Pajeú – afluente do São Francisco – tenha nascido.
No alto do pequeno espaço sagrado, há uma pequena cruz celta, feita de galhos de árvores desse lugar onde vivo, chamado sertão, “que é ser de jeito tão que, somente sendo-o, pode-se se entender o que é sê-lo”.
Com poucos tamboretes, a capelinha, em honra da Virgem Imaculada Conceição edificada, mantém consigo o encanto do que é sóbrio e despojado de qualquer artificialidade.
Quando dois dos meus, os mais próximos, partiram, ali estava eu, procurando forças para fazer a travessia.
Quando um outro caiu na mesma enfermidade que a minha, fiquei de joelhos horas, ali na capelinha.
E pelos que, de constante pedem minhas orações, é lá que eu os apresento a Deus por seu Filho Cristo Jesus, no que conhecemos pela “comunhão dos santos”.
Se, ali, de repente, alguém, por ventura chegasse em alguma horário da madrugada ou em noite avançada, possivelmente me encontraria desacordado no chão de tijolos, tendo já saído e sem horas para voltar.
Um ser insuficiente, que sou eu, em preces por outras insuficiências, diante do Único que é Forte, Santo e Necessário.
Isso e mais que isso, significa a capela de barro para mim.
Pe. Airton Freire
“Algo de verdadeiramente belo e válido, em todo ato solidário há. Algo de atraente e permanente, em todo verdadeiro e desinteressado sentimento de partilha solidária, em qualquer época, haverá. Algo que evidencia o que traz por motivação primeira, em toda a singeleza do amor solidário, cedo ou tarde, manifestar-se-á. No final, queimada toda a palha, só o essencial resistirá. Assim tem sido. Assim será.” (Pe. Airton Freire)
“O silêncio é um grande auxílio para quem, como eu, está em busca da verdade. É preciso silenciar para que teus atos possam falar. É preciso silenciar para poder ouvir. É preciso silenciar para ter que decidir. É preciso silenciar para que possas, com clareza, ver onde precisas te colocar. Todavia, em alguns momentos, terás de anunciar, servir e testemunhar. Sem silêncio interior não se pode cultivar nenhum real valor. Silêncio é tão necessário para a vida, quanto para a música é necessária a pausa. Silenciar, por vezes, pode ser uma necessidade para que a uma resposta, mais rapidamente, possas chegar.” (Pe. Airton Freire)