“O certo é que aqui chegaste. Não podes dizer que sempre viveste em felicidade, mas, com certeza, viveste a tua verdade, e, chegado o momento em que estás, tu podes avaliar, afinal de contas: “Ao longo da minha vida, de quanta coisa fui ou não capaz?” Não te digo tais coisas para que possas chorar o leite derramado ou exultar por grandes feitos realizados, mas para que não percas a consciência de tua história pelas inscrições que vêm de teu passado. Pois aquele que tem ciência do que tenha vivido até então, saberá, a partir da sua história, o rumo e a direção que poderá dar a antigos ou a novos acontecimentos. O que não podes é viver ao sabor dos ventos, administrando as ocasiões conforme elas forem se te apresentando. Pois, a continuar desta maneira, persistirás até quando? O certo é que carente, faltante, sempre haverás de ser, e essa brecha, essa falta constante e estrutural que te acompanha em busca de preenchimento haverá de com vida te manter. Administra tuas demandas, aquelas que partem de ti ou que chegam de fora. Já conheces o sentido da história suficientemente para saber do que foste e do que ainda és capaz. Não venhas tu a te perder por coisas que poderias evitar. Não venhas tu a retardar o que, a depender de uma decisão tua, muito bem ainda poderia fazer. Prós e contras existem sempre, qualquer que seja a decisão que venhas a tomar. Todavia, a conviver com o que se antepõe a teus valores, hás de aprender.” (Pe. Airton)
“Se, em tua vida, tiveres de te erguer, que seja apenas para não rastejar, porque a vontade de Deus é que tu caminhes, não rastejes, venças teus limites, as tuas pelejas e que, afinal de contas, inteiramente dele tu sejas. Se tu tiveres de te curvar, que seja para prestar auxílio, para ajudar o outro a se erguer. Que outra forma digna de ser para com o outro, senão essa, poderia existir? Curvar-se e levantar-se, dois verbos cujas conjugações exprimem lugares diferentes, assim como o fazem lavar os pés e lavar as mãos. Um se curva para lavar os pés a fim de ajudar; o outro, do alto, lava as mãos como a dizer: “Com tal coisa, não quero me incomodar”. Este segundo realiza com seu gesto um ato de omissão. Aquele, com seu gesto, realiza um ato pelo qual se pode ler: “Servir”. Lavar os pés ou lavar as mãos – curvar-se para ajudar ou ao alto erguer-se para não se importar – são opções. O desejo do Senhor é que não rastejes, porque essa não é uma postura de quem vive e move-se no mundo com dignidade. Humanizante é a ação que leva à integração, à prática do amor solidário. A que faz do semelhante um estranho, como o ato de lavar as mãos (omissão), é a ação que não conduz nenhuma das partes à superação de inerentes condicionamentos. Está em ti tomar partido por esta ou aquela posição, assumir este ou aquele lugar. O certo é que, no incerto, não haverás de permanecer porque, afinal, é no teu proceder, em tua forma de ser, que claramente haverá de se fazer a leitura de qual esteja sendo o teu lugar.” (Pe. Airton)