“Há coisas certas que, se feitas em momentos incertos, com certeza, em consequências incertas resultarão. É preciso que a coisa certa seja feita no momento certo, mas como saber o certo, se o incerto se vive até nas certezas que tu tens a tratar? Aí convém, outra vez, ressaltar: na dúvida, convém não ultrapassar. Se essa regra serve no trânsito, serve também para ti quando estiveres transitando e não souberes, ao certo, se deves proceder, como proceder ou mesmo se é tempo de parar. Na dúvida, convém não ultrapassar. ” (Pe. Airton)
“Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26, 41).
Há certas coisas que nos chegam de surpresa, enchendo a alma qual represa, e, se não estivermos bem preparados, poderemos ser tomados por não saber os próximos passos a serem dados. Há certas coisas que nos inquietam o coração. Há outras que nos acalmam e nos lançam considerável ponto de interrogação.
Quando tua alma estiver preparada para empreender uma tarefa, início de uma jornada, preciso é que ela esteja devidamente avisada de que mudanças poderão acontecer e que, na melhor das suposições, nem tudo poderá se dar da forma prevista. Em razão disso, que de todo empecilho esteja a tua alma desvencilhada. Para tanto, enquanto te for possível, hás de estar em alicerce seguro embasado, para não acontecer que se perca tua alma em algum momento de tua jornada.
Perigos que desencaminham planos previamente traçados vêm também de fascínios, pelas asas do inesperado. Existem fascínios que podem te cegar e não te deixar ver de perto aquilo que, com certeza, sem este fascínio, poderias enxergar.
Existem fascínios que te entorpecem, que te deixam sem saber para onde ir e, por causa deles, muitos se perdem e ficam no conflito de não poder ficar e sem querer partir.
Existem aqueles que são fascinados e que se sentem como que bloqueados, não sabendo por onde avançar, e outros fascinados existem que, reconhecendo seus limites, são motivados a se superar.
Existem fascínio e fascínio. Um leva ao encantamento; o outro leva ao avassalamento. Fascínios há que levam a uma superação, e há outros que conduzem a um amordaçamento ao não encontrarem espaço, lançando o fascinado em total isolamento.
Existem pessoas que, de tão fascinadas que estão, não percebem a gravidade de determinada situação. Elas estão entorpecidas, não sentem uma emoção porque a sua alma está como que bloqueada, paralisada por aquilo que não guarda similaridade com viver em liberdade. A alma só encontra paz no que lhe garanta vida plena, que é mais que sobrevida.
Há pessoas que estão de tal forma fascinadas, que vivem com o perigo ao lado, não sabendo que, a qualquer momento, o seu breve equilíbrio poderá ser quebrado. Estão fascinadas e, por isso mesmo, isoladas. Não percebem o que se passa ao derredor senão o objeto pelo qual se sentem fascinadas, e o seu olhar não enxerga nada além do que as fascina. É necessário, em tais momentos, haver uma quebra desse encantamento (fascinação de um momento), que é, afinal de contas, puro rebaixamento. É necessário que algum acontecimento possa fazer tal pessoa se acordar, a fim de perceber que, se assim continuar, em algum ponto, há de se quebrar.
Existe um fascínio que nos leva a nos encantar e, por causa dele, mesmo nas crises, podemos ser levados a dificuldades múltiplas ultrapassar. Há fascínios, contudo, que não nos permitem enxergar os dados da realidade e, por mais que estes se nos apresentem, não conseguimos perceber a sua veracidade. Por isso, é preciso discernir entre um fascínio que entorpece e outro que faz ver e querer vencer.
Há um fascínio que leva a um alheamento de si mesmo e a atos nos quais o sujeito não se reconhece, tamanho seu avassalamento. Nesse estado de “com-fusão”, ele é precipitado ao mundo da ilusão e instado a tomar decisões das quais não participa o equilíbrio entre mente e coração.
Existe um fascínio que nos leva a nos encantar e, por mais que seja difícil o momento presente, a certeza é mais ainda premente de que se haverá de triunfar.
Fascínios têm natureza de crescimento e declínio, a depender de como se há de administrá-los. Existem em ti fascínios e fascínios. Uns que te permitem enxergar, aguçando o olhar, e outros que não te permitem, nem ao menos, saber de ti, nem ao menos, saber por onde recomeçar. Em relação a eles, hás que te posicionar.
(Pe. Airton Freire)