“Tu precisas, em tua vida, ter presente que nem tudo poderá acontecer conforme os teus melhores intentos ou planejamentos, o que não significa dizer que não sejas determinado, mas que possibilidades se abrem, e o novo, para além dos teus cuidados, irá acontecer. Se tu guardares, em relação à vida, este olhar, esta compreensão e consequente disposição, estarás aberto a te renovar, a te reciclar, a recapitular antigas posições. Para além do que tu enxergas, muito há da verdade. Ou dito de outra maneira: no que tu enxergas, não se encerra toda a verdade. O que tu vês depende do teu olhar e do ponto a partir do qual tu estejas a enxergar. O ângulo de tua visão não abarca toda a realidade. É necessário, pois, admitir, ao menos, que outra forma de enxergar a realidade existe. Assumir isto evita posição de desnecessário conflito. Ser determinado é também determinar-se ao novo que vai em frente, ao que emerge de diferentes situações, mesmo que sobre isso não tenhas pensado previamente. O novo também emerge a partir daquilo que por ti não tenha sido antecipado. O princípio da indeterminação é que faz o novo, de contínuo, ser emergente. Não feches questão, mas tenhas determinação para querer olhar e enxergar o diferente. Eia, avante! Em frente!”
Pe. Airton Freire
“Se conseguires identificar-te com o ser de Deus, verás que daí resultarão atos que não passarão. O ser de Deus é amor. Se conseguires ser, no mundo, pelo diálogo, pelo anúncio, pelo serviço, pelo testemunho, um sinal do amor de Deus, serás sinal de unidade. É teu serviço, teu agradecimento pelo dom, que é graça, amor que se dá, por tudo o que, gratuitamente, recebeste. Teu ser, com o Amor identificado, afetiva e efetivamente revelado, reunirá o que estiver disperso. Aqueles com quem tu trabalhas, convives, verão, em tua ação, o Espírito do Ser que é e que em cada teu proceder permanecerá. Permanece o que conduz a Deus. Perpassando toda mudança, Ele permanece o mesmo. Ontem, hoje e sempre. Identifica-te com Ele de tal forma, que a Sua causa possas, in totum, abraçar. A causa do Senhor é que a Vida seja plena para todos e em todos.” (Pe. Airton)
“O coração é o que há de mais enganador, e não há remédio. Quem pode entendê-lo?”
(Jr 17, 9)
A nossa vida pode ser orientada a partir de um fascínio. Existe um fascínio que eleva, e existe outro que leva a um declínio. Existe um fascínio que nos faz querer lutar, vencer, superar, e há outro que nos causa um estado de despossessão, avassalamento, assujeitamento, uma forma imaginária de cativação. Existe um fascínio junto ao qual reside um sentido para viver, e, mesmo nas crises ou dificuldades, se é por ele instado a querer vencer. Existe um fascínio que entorpece, embrutece, enfraquece e não deixa ver. A questão está em que tu possas discernir e, depois, optar por qual tipo de fascínio, em tua vida, haverás de te orientar.
Fascínios há, alguns somente, que dependem de tua vontade no que concerne a mantê-los ou escamoteá-los; outros independem do teu querer. Tu podes te perceber, em determinado momento, fascinado por coisas que, intimamente, nem querias e que te pegam de repente, levando-te agir ou a viver à revelia.
Considera, a partir do exposto, se alguém viesse te perguntar: “O que fascina o teu olhar? Que (in)adequação, na vida, percebes estar a acontecer?” Se um crescimento, apesar de certa cota de sofrimento, não estiver acontecendo, impertinente é tudo o que estás vivendo. A inadequação, a partir de um inaugural momento, traz consigo uma matriz de ilusão, com ou sem sofrimento. Quando se quer nisto enganar a si mesmo, há riscos de variadas maneiras. A saída está em optar pela verdade. Considera estes pontos em questão neste primeiro exemplo: o que remete ao coração pode não ter, na mente, repercussão, pois o coração pode dizer sim e a mente dizer não. No segundo exemplo: pode também acontecer, inversamente, que se venha a saber de que ponto se trate, precisamente, mas o coração não participe deste momento. Assim, serás levado a uma divisão que resultará em que fiques aquém ou além do que como meta estabeleceste. Como provação ou como (des)equilíbrio, pela descontinuidade de momentos, poderás compreender tal acontecimento. Todavia, o que se aprova, após a provação, é o que fica da verdade. Isto garante continuidade e torna possível ser efetivado o que resulta em permanente sentido. Reforço: o que dá sentido vem pela superação de limites – estes que, na humana condição, todos experimentamos – se o amor aí estiver presente.
Pe. Airton Freire