“Ter fé não é tanto acreditar em conteúdos, mas ligar-se de forma condicional ou incondicional a alguém: eu creio em ti, eu confio em ti. E isso antecede qualquer ação. Isto equivale a dizer: naquilo que tu fizeres, eu poderei te seguir, e estarei contigo e o que te digo não desdigo. Fé é adesão à pessoalidade de alguém, muito mais do que credibilidade ou incredibilidade ao conteúdo que ele tenha a apresentar. Ao se ter fé, coloca-se a questão, como divisor de águas, do que é idílico, do que é possível. O idílico faz parte da natureza dos sonhos: sonhos não sonhados, sonhos acordados, sonhos mal dormidos, sonhos realizados. E o que é possível é aquilo que se tornar presente a partir das condições que o sujeito traz consigo num determinado momento. Eu te explico: se entre ti e alguém houver pontos coincidentes, algo de novo será possível a partir de um encontro, um determinado momento. Se, contudo, entre ti e alguém não houver ponto algum coincidente, haverá demanda de uma parte ou de ambas as partes, mas essas partes não garantirão o sucesso do que se tem em coração e mente. Se o teu desejo coincidir com o desejo do teu Pai que está nos céus, este ponto de congruência resultará ser possível algo de novo acontecer. Se entre ti e aquele que mais próximo de ti estiver houver pontos coincidentes, é muito possível que a ação dos dois seja convergente e aí possam se encontrar. Em não havendo pontos de coincidência, tentativas haverão, até jogo de sedução, apelos decifrados ou semi-decifrados, rogos, pedidos… mas, nunca se farão encontrados. Por isso, procura, neste exercício, neste ponto de tua caminhada, distinguir o idílico do possível.” (Pe. Airton Freire)
“Eu preciso fazer uma parada para avaliar, até porque nas paradas eu posso me alimentar. É preciso haver um intervalo, antes de novamente o pé ou os pés na estrada colocar, ao contrário de quem estivesse sempre a caminhar, sempre a trabalhar, sem pensar nem ao menos no sentido do que faz. E aquele que só faz, não se satisfaz. Aquele que só tem a fazer tem grandes riscos de vir a ser perder. Por isso, as paradas são necessárias. Há risco para alguns de parar e não querer continuar; há risco também para outros que só querem ir em frente, sem intervalo para o faz ou traz em mente. Tanto para uns quanto para outros há risco de perdas; tanto para uns como para outros a caminhada poderá, desde a partida ao seu objetivo, vir a se estragar e aquilo que tiver sido pensado, desejado, não vir a se alcançar. É preciso fazer paradas. É preciso que certos princípios, colocados na partida, sejam renovados para que, até à chegada, eles não tenham sido largados. Perdas acontecem, lembra-te, entre o anoitecer e o amanhecer, muita coisa acontece; entre o pensar e o executar, muita coisa pode se passar; entre a espera e a chegada, muita coisa pode ser alcançada, muita coisa pode também ser deixada. Por isso, é preciso que até os princípios que trazias contigo na largada sejam renovados, para que se faça com mais sentido a caminhada; e se estiveres, na verdade, cansado; se, na verdade, teu corpo estiver tombado, tua alma estiver sem orientação, busca, na verdade, um ponto de parada, onde possas te restabelecer, mas não fiques demasiadamente parado, porque isso pode trazes consigo um desgaste maior, o de não querer vencer.” (Pe. Airton Freire)
“Que venhas tu te preparando antes para o momento em que, de forma serena, sincera, coerente, amena, tiveres de optar. Que a tua decisão já tomada não seja precipitada em ser anunciada. Avalia, traz a decisão ainda por dentro, tenta refazer ainda pontos pendentes, em posteriores momentos, para que não venha a te desculpar pelo que tiveres deixado de fazer atualmente. Não venhas tu a te culpar por não teres estancado a sangria. Que não se tome qualquer decisão à revelia, pois, o que vier a acontecer a não acontecer poderia. E aí? Não sejas precipitado no dizer nem no fazer, pois, a decisão mesmo interiormente já tomada, precisa amadurecer. Que o Senhor te ilumine quando isto tiver que acontecer. Sobretudo, se pessoas próximas a ti, e por Deus tão amadas, em tua decisão estiverem implicadas. Que o Senhor te ilumine quando tiveres de optar, tiveres de decidir, e algo de verdadeiro e mui sério tiveres de anunciar. Lembra-te de que um fato é um fato e, uma vez acontecido, não se pode mudar. Pode-se mudar o posicionamento, a compreensão do acontecido no momento; quanto ao fato, ele próprio não se pode mudar. Lembra-te de que a palavra também faz ato. A palavra reifica, presentifica, traz a coisa, torna-a presente. E o teu presente é o teu melhor presente. O presente é a tua presença, malgrado possa haver a quem tua presença presente não esteja. Há presenças que nem são presenças, são até uma forma de se evitar, como a dizer: estou aqui presente para te negar naquilo que sobre mim vieres a demandar.” (Pe. Airton Freire)