“Tive um sonho; e para saber o sonho está perturbado o meu espírito”. (Dn 2, 3)
Responde rapidamente: onde se encontram os sonhos efetivados? Naturalmente, na realidade, por terem sido pela esperança regados. Quando a esperança rega o sonho, à semelhança de uma mãe que no colo traz uma criança, produz-se ali o que guarda semelhança com uma âncora: espantam-se medos e ânsias e abrem-se espaços para que o potencial não seja tolhido, mas expandido, tornando-se, um dia, realidade. Esses são os sonhos que se tornarão efetivados.
Acalentar um sonho e torná-lo possível faz sentido. Qual, então, a realidade dos sonhos? A de serem fantasias ou guias para a realidade existente. Por duplo aspecto, de fantasias e guias, há então de se ver a (im)pertinência do sonho, quando por esta realidade (de sonhos) formos visitados. No que concerne ao prosseguimento ou quebra de continuidade em todo aquele que sonha ao longo de uma caminhada, os sonhos se tornarão sua principal razão, motivação. Contudo, a um dado há de se ficar atento: tratando com a dureza ou os limites da realidade, os melhores sonhos poderão ser impedidos. Sonhos que permanecem vivos acontecem para quem compartilha. Pesadelos, por sua vez, são quebras de sonhos, vêm do interno da gente, põem fim ao repouso e abrem brechas a inquietações tão comumente. Pesadelos são limites dos sonhos que expõem nossa fraqueza e nos deixam perplexos ou duvidosos quanto à validade de persistir, insistir em acreditar no que tomamos por verdade. Apesar dos pesadelos, vale a pena, contudo, sonhar.
Ai dos que não sonham. Ai dos que somente sonham. Ai dos que não têm nos sonhos motivação para efetivá-los; ai dos que os banem, não os expandem – antes, contudo, espantam-nos -, negam-se a dar-lhes o lugar de companheiros de viagem.
Repito esta verdade: a realidade dos sonhos é que eles podem ser fantasmados ou podem ser guias seguros e, nos avanços da vida, necessários. Adiante e na retaguarda, precisam estar os sonhos para se viver e vencer. Sonhar é necessário.
Onde os sonhos são sonhados? Eles são sonhados onde a realidade é por eles bordejada. Podem estar próximos ou, ao contrário, em fuga, para longe dos que da realidade se distanciaram.
Tu precisas sonhar para sentir que vale a pena acreditar. Sem sonhos, é impossível suplantar determinada ordem de dificuldades. Sonhar para não parar. Sonhar, igualmente, para fazer pausar. Sonhos trazem consigo possibilidades claras de levar adiante e de paralisar.
E aí a pergunta que insiste, não esmorece: quais sonhos fortalecem a esperança e quais sonhos enfraquecem e criam ânsia? Repondo-te: os primeiros são os sonhos que enaltecem ideais, que engrandecem e que, do presente, fazem o seu melhor presente. Já os do segundo caso são aqueles que levam a descer, mesmo quando conseguem embevecer; são os que levam à perda do sentido de realidade.
Pesadelos são o que paralisa no medo, não deixando ver. Nisto consiste seu desserviço: quando se estabelecem, resultam em que, rapidamente, da realidade fazem esquecer, obliteram a consciência, não deixam ver.
O teu presente poderá ser confiscado se não viveres a realidade de teus sonhos verdadeiramente sonhados. Se não tiveres, na vida, um projeto a ser realizado, o teu presente será apenas repetição do teu passado, e o teu futuro será uma ilusão sem futuro, o absurdo do absurdo. Caminharás, então, em noite escura, não sabendo, ao certo, por que nem aonde haverás de chegar.
Se te faltar um projeto de vida, algo que te seja caro, desconhecerás a riqueza que se produz em quem sonha acordado com os pés ao chão colados. Num futuro próximo ou distante, esse para o qual o teu presente já se faz encaminhado, tu entenderás que terá valido, mesmo nas quedas, teres acreditado e teres sonhado que poderias vencer. Felizmente.
Sonhar é coisa da gente.
Pe. Airton Freire
“Aos poucos, nós vamos percebendo que, se em algum momento de nossa vida, estávamos começando a desistir, a graça, a tempo, veio nos alcançar, e a esperança – que não decepciona, se posta em Deus – depressa veio nos socorrer. Por termos acreditado, o Senhor Deus não nos faltou. Aos poucos, vamos esvaziando a alma ou a mente daquilo que com Deus não pode combinar, a vida vai tomando um rumo diferente daquele que até então vinha seguindo, e, sendo obra do amor que nos está acontecendo, mudanças vão surgindo, o nosso coração vai antevendo, e a mente vai intuindo que algo novo está surgindo, um novo tempo está começando. A esperança, que, de nós, andava tão afastada, vai voltando ao ponto de onde nunca deveria ter partido, a mesma que, em nós, aceitamos, para aí fazer morada. Dela, parte a alegria de viver que, por um tempo, andava de nós, afastada, por razões que à esperança eram estranhas, aquelas que, aos poucos, foram se distanciando. Como as primeiras chuvas que irrigam os campos, a alegria vai voltando, e aquilo que antes inquietava o nosso coração vai cedendo lugar à esperança, que, novamente, em nós, vai habitando.” (Pe. Airton Freire)