“Ao longo de uma caminhada, nem sempre é possível, de imediato, descobrir o sentido de certas proximidades, pelas quais as concessões têm passagem. Existem proximidades que comprometem, e existem distâncias que fortalecem. Existem coisas que teimam em retornar, sobretudo aquelas que ainda não foram resolvidas e que, por isso, não encontraram o seu lugar. É preciso, então, observar a que conteúdo remetem certas ânsias pelas quais se tem passado. O que ainda não tiver sido elaborado, malgrado com isto se tenha de constante lidado, pode comprometer projetos, os mais sonhados e planejados. Coisas não elaboradas equivalem a coisas não admitidas, pois, ao se admitir, inicia-se a elaboração, e o que elabora uma ação passa pela consciência de saber que é preciso dar passos, a fim de que, como se era antes, não se permaneça. Do contrário, entraves, a partir daí, poderão surgir, e novos passos não irão acontecer. Volto, pois, a insistir: é preciso avaliar antes de decidir. Tão importante quanto caminhar é saber primeiramente aonde se quer ir. Tão importante quanto conseguir é saber conservar, mas viver pelo que não faz sentido é correr grande risco de, no meio da caminhada, cansar-se e procurar outras compensações como forma de levar adiante o que carece de sentido. Quem segue veredas evita o Caminho. Entre o Caminho e as veredas, terás que optar. Um pode ser mais difícil até de se trilhar; o outro pode até encurtar distâncias, mas há um preço a se pagar, como a perda da liberdade, sem o que comprometida estará tua própria identidade. Esvaziamento, por esta via, é matriz de evitáveis sofrimentos. Antes de decidir, é preciso discernir, pois os que apenas seguem e querem um objetivo, a qualquer custo, alcançar, acabam fazendo concessões pelas quais um preço grande, como o da própria liberdade, haverão de pagar. Sobre isso, convém pensar.” (Pe. Airton Freire)