“Considera, pois, a necessidade de escutar. Escuta, primeiramente, os ruídos que perturbam a tua alma. Lembra-te, ainda, de que o que vês depende de teu olhar. Aquilo que não vês depende, também, em grande parte, das coisas que não queres enxergar. A qualidade do teu olho diz da qualidade do que tu haverás de enxergar. A maneira como tu percebes diz também do ângulo que se forma entre ti e o objeto que tu estejas a observar. Tu queres enxergar longe quando, primeiramente, deverias enxergar o que há por perto. Tu não podes querer aprofundar uma realidade sem antes, em direção a ela, dares os primeiros passos. Se teu olhar não for purificado, tu não haverás de perceber o que de mais trivial existe ao teu lado. Purificado, teu olhar conseguirá perceber, em largo e em profundo, o que está subjacente a toda fala, a toda ação. Lembra: toda presença cumpre uma função. A tua presença deve revelar o que estiver escondido pela beleza do teu olhar e nunca o desejo de julgar. Tu e aquele a quem julgas participam da mesma humana condição, onde cabe solidariedade e nunca julgamentos, veleidades. Se tu olhas para julgar, a ti mesmo julgas, porque ages pondo-te acima de quem participa da mesma condição e limites humanos de que fazes parte. Quem nos julga é a nossa própria posição pró ou contra a Verdade.” (Pe. Airton Freire)
“A Aliança, a que se estabelece entre ti e o teu Senhor, é que vai balizar os teus atos, e eles serão referendados e por Deus aceitos por quanto ali estiver presente o desejo de acertar em razão de teu amor. O que Deus, afinal, haverá de levar em conta não é tanto o que fizeste inúmeras vezes a perder de vista e de conta. O que para o Senhor interessa é que tu possas decidir a partir da Aliança que ele deseja contigo estabelecer. Esta Aliança, fundada na confiança, a que acontece no coração, precisa uma vez ser referendada a partir de atos condizentes com a tua primeira decisão. Tu não podes estar aqui desejando estar lá; tu não podes estar lá desejando estar aqui; porque, lá ou aqui, dificuldades sempre haverás de encontrar. A questão que se coloca é esta, e a partir dela tu precisas pensar: os atos que te têm acompanhado referendam ou negam a Aliança feita, primeiramente, no coração? Sobre isso, convém que penses e, quando tiveres de decidir, leva em conta esse elemento que é de fundamental importância em qualquer circunstância. Para onde quer que conduzas a vida ou ela queira te conduzir, se for a Aliança o elemento balizador, que tenhas tu a certeza de que, malgrado a aspereza ou malgrado tempos de bonança, o Senhor será o primeiro a levar a bom termo a obra iniciada em ti. Se tu pensares dessa maneira, terás a certeza de que passos certos haverás de dar, malgrado nem tudo esteja acontecendo à tua maneira. A Aliança será o fundamento, em qualquer momento, pois, feita na confiança – aquela que se inscreve no coração, no desejo de partilha, na cumplicidade -, presente será em todo o teu agir, pensar, sentir. Em qualquer outra atividade, fora disto, estarás correndo grandes riscos de decidir a partir de alguns elementos, com certeza, mas sem a consistência do que, desde antes, firma-se em ti incondicionalmente.” (Pe. Airton Freire)