“Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, salvou-nos pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo.” (Tt 3, 5)
Na vida, hás que ter determinação sem ser intransigente. Determinação, se quiseres seguir em frente, sabendo, de antemão, que o que indetermina uma ação pode levar à malversação. Hás que, em tudo, ser claro e coerente acerca do que tu queres fazer, mas não deves ser intransigente em pontos modificáveis, pois tudo o que se tem feito é efeito de um processo de adequação de procedimentos. Assim sendo, considera que, em mudança constante, vive-se ao longo do tempo. Digo novamente: tu precisas ter determinação sem ser intransigente. Tu poderás viver o mesmo de forma diferente: a forma conta muito. Um olhar é diferente de um olhar, por exemplo. Se não fores determinado no que fizeres, não terás continuidade e não passarás segurança em tudo o que por ti for realizado. Todavia, a intransigência é uma impertinência, caracteriza-se por não querer ver o óbvio, não traz nem faz a diferença.
Se a própria natureza está em constante mutação, porque tu não te dispões também a enxergar novas possibilidades, a fim de que, não te negando às prioridades, possas chegar a melhores, ou mesmo iguais, resultados? Aliás, a forma como tu fazes, atualmente, é somente uma das inúmeras possibilidades de realizar um ato. Em ti, não nasceu, não viveu, nem morreu toda verdade. Tua forma de proceder é uma entre outras formas de ser. Por isso, que tenhas determinação quanto à clareza do que tu queres alcançar, mas que sejas maleável para mudar, se for uma necessidade da ocasião, não traindo a primeira intenção. Precisarás, para tanto, de sabedoria, a fim de que tenhas real discernimento acerca do momento e de suas implicações ao tomar determinado posicionamento.
Considera, portanto, que toda ação produz efeitos, com seus limites, mutações, erros e acertos. Em parte, depende de ti o sucesso do que vieres a fazer, mas há algo de imponderável e inesperado que nos resultados também poderá influir. Tu precisas estar atendo aos movimentos internos e externos que nortearão, determinarão o prosseguimento de um pensamento, de uma intenção. No que depender de ti, que sejas tu coerente e veemente acerca do que pretendes fazer, mas que saibas, também, trabalhar as eventualidades, essas variáveis do planejado, aquilo que pode fugir completamente ao teu querer.
Todo ato tem por efeito erros e acertos. Todos eles hão de ter tua marca, em razão de passarem por ti e enquanto, parcialmente ao menos, dependerem de ti, precisarão por ti ser administrados com sabedoria, equilíbrio e sobriedade, não descuidando-te do que te chega como eventualidade. Lembra-te de que o inesperado é a variável possível do planejado. Se não trabalhas com as variáveis, como tu poderás obter, em tudo, esperados resultados? Em parte, de ti muito depende, mas há coisas que de ti independem e, acontecendo, convém saber, com sabedoria, administrá-las. Do contrário, tu poderás não levar a bom termo a obra que tinhas tudo para bem realizar.
Pe. Airton
“‘O desejo de meu Pai’, disse, certa vez, Jesus, ‘é que nenhum deles se perca’ (Jo 6, 39). Infelizmente, possibilidades de perdas existem, mormente para os que amam, porque se tornam mais vulneráveis. Possibilidades de perdas existem para os que se negam a amar, sobretudo porque não se cativam nem se permitem cativar. Possibilidades de perdas existem para todo ser de desejo, para todo aquele que deseja, porque, ao desejar, poderá, nos objetos, vir a se alienar, sobretudo quando elege o objeto como aquele que fará, de sua falta, a obturação. ‘Tu obturarás a falta que há em mim, tu fecharás a cicatriz que trago comigo, tu me trarás a redenção’. Este é o discurso da alienação. Agora, se juntos caminharmos como faltantes, como demandantes, com reconhecimento da brecha que trazemos nós, com certeza, chegaremos aonde nos propusermos chegar, se a graça de Deus nos permitir e se anos de vida ainda tivermos até lá. Eu queria te pedir que, pelas perdas, não viesses tu totalmente a te perder. Que pudesses fazer de tuas perdas atos de ganho, porque, mesmo perdendo, poderás ganhar. Eu queria, também, pedir-te que não pedisses a Deus a graça de conseguir e, uma vez conseguindo, não soubesses como lidar, porque sofrerias por chances mais uma vez perdidas, talvez não mais encontradas. Se quiseres atualizar, numa situação nova, uma situação já passada, perderás a riqueza de descobrir o encanto da situação presente, porque sobre ela farás uma superposição. E, querendo resolver questões da mente, tu te perderás por razões do coração. Pois aqueles que só vivem para a mente podem morrer, podem se perder pela frieza dos cálculos, pela ausência de emoção. E aqueles que vivem só pelo coração correm grandes riscos de sofrerem os riscos e os perigos da paixão. Mantém, pois, o equilíbrio entre coração e mente; e que não diga a tua boca o que teu coração desmente; e não se ocupe o teu pensamento daquilo de que não participa o teu coração. Do contrário, sofrerás perdas e danos, ao invés de ganhos e superações.” (Pe. Airton Freire)