“Olhei, então, e não houve pessoa alguma para me ajudar; estranhei que ninguém me viesse amparar; então apelei para o meu braço e achei forças na minha indignação.” (Is 63, 5)
Se, em tua vida, tiveres de te erguer, que seja apenas para não rastejar, porque a vontade de Deus é que tu caminhes, não rastejes, venças teus limites, as tuas pelejas e que, afinal de contas, inteiramente dele tu sejas.
Se tu tiveres de te curvar, que seja para prestar auxílio, para ajudar o outro a se erguer. Que outra forma digna de ser para com o outro, senão essa, poderia existir? Curvar-se e levantar-se, dois verbos cujas conjugações exprimem lugares diferentes, assim como o fazem lavar os pés e lavar as mãos. Um se curva para lavar os pés a fim de ajudar; o outro, do alto, lava as mãos como a dizer: “Com tal coisa, não quero me incomodar”. Este segundo realiza com seu gesto um ato de omissão. Aquele, com seu gesto, realiza um ato pelo qual se pode ler: “Servir”.
Lavar os pés ou lavar as mãos, curvar-se para ajudar ou ao alto erguer-se para não se importar. Diversas leituras é possível ter destes acontecimentos. A chave de interpretação passará pelo lugar e posicionamento. Demandas e interpelações podem resultar em atos pelos quais tu te sentirás integrado ou alheio, não reconhecendo-te naquilo em que tu fazes. Disso, poderão resultar ações desumanizadas e desumanizantes, que são as que não vêm de solidariedade acompanhadas ou as que fazem do outro um estranho, embora este seja, na realidade, um irmão. Está em ti tomar partido por esta ou aquela posição, assumir este ou aquele lugar. O certo é que, no incerto, não haverás de permanecer, porque, afinal de contas, é em teu proceder, em tua forma de ser, que claramente haverá de se fazer a leitura de qual seja teu lugar.
Agora, para que não te esqueças, vou revisar: quando tu tiveres de negar, que seja para ajudar. E quando disseres “sim”, que o sim não venha a atrapalhar. E quando tiveres de dizer “talvez”, que tenhas tido antes o tempo de pensar. E quando tiveres de dizer “a partir de então”, que seja para ser firme na decisão. Em tudo, é preciso ser preciso; do contrário, tu perderás o rumo, a direção e o siso, não saberás como te orientar. Repito: em tudo, é preciso ser preciso, pois a imprecisão conduz à confusão, a confundir e ser confundido. Se não fores preciso, poderão não te compreender, poderás equivocar-te e equivocar, não sabendo, exatamente, o que fazer. Tu precisas ser preciso e, sem isto, não alcançarás, minimamente, o que almejas. Em razão de falta de clareza, muitos se perderam.
Se tu vives uma situação onde não esteja claro o motivo que te faça estar ali; se, em razão de uma série de acontecimentos, tu te perceberes, de repente, não mais vivendo o que pensaste para ti, é preciso aí ser preciso acerca do que tu queres, porque, afinal de contas, se verdade é que as coisas têm valor em si, igualmente válido é dizer que valor às coisas também se confere. Se, para ti, por exemplo, odiar como valor for considerado, hás de convir que isto, em si mesmo, valoroso não é de per si. Se entenderes que algo só tem valor enquanto valioso for para ti, tu perderás bem mais do que dantes já pensaste. Claro precisas ser acerca do que almejas.
É preciso ser preciso. A imprecisão faz perder a razão por não permitir ver claramente o para quê. Para algumas precisões, é preciso haver cortes, tomar uma de(cisão), fazer uma cisão. Tudo tem um preço, tudo tem um custo. Custa tanto dizer quanto fazer. Custa, sobretudo, por vezes, ser preciso quando isto produz um ato que faça sofrer.
É preciso ser preciso. Toda a verdade cabe na caridade. Mansa e humildemente, tu poderás falar, posicionar-te. Circular em torno da imprecisão resulta em ser confundido. É preciso ser preciso. Guarda bem o que te digo.
Pe. Airton Freire