1 de março de 2017
servos da terra

“Onde, pois, estaria agora a minha esperança? Sim, a minha esperança, quem a poderá ver?”

(Jó 17, 15)

Tu açoitas a esperança a cada vez que te manténs no que te leva a cultivar ânsias. A esperança é açoitada quando o teu ser não colabora para uma forma autêntica de viver. Açoitas a esperança quando, tua confiança sendo frustrada, tu desistes de continuar a luta e ficas a um quarto ou a meio percurso de uma caminhada. Tu aceitas a esperança à medida que, mesmo sendo difícil, tu aceitas enxergar e avaliar potencialidades e limites do teu atual momento, no desejo consequente de encontrar o sentido para continuar a ser como intencionaste. Entre açoites e aceites, a esperança se faz companheira de jornada. Em um ou outro caso, sente-se ela estranha ou em casa, banida ou acolhida e, em decorrência, larga-te – deixando tua alma aflita ou “quase cansada” – ou faz em ti morada. Comportas se abrem (quem com isto se importa dentre toda a gente?), e o abandono da jornada se torna premente.

A esperança há de ser cultivada, por ser tua mais cara companhia. Por nenhuma razão, por nada nem por ninguém, queiras tu dela te esquivar, porque passarias a viver à revelia. Tu não podes fazer da esperança algo a se aproximar apenas em momentos que te forem convenientes ou aprazíveis. A esperança deve estar em ti em todos os teus momentos, por meio de uma forma de ser, de uma maneira de viver, de perceber. Ela se manifesta por teu estilo de vida, por convicções que partem do mais profundo do teu ser.

Se a esperança de ti se fizer acompanhada, a tua alma, mesmo nas crises, não se sentirá abandonada. A esperança espanta a ânsia, torna a alma alentada, qual se sentem os que, com o alimento, refazem-se após longa caminhada. Que ela se faça tua mais cara companhia, e, por ela, acredita, terminada a noite, virá o dia, embora aos teus olhos não seja isto claro. Dela, enamore-se o teu coração; por ela, equilibre-se a tua mente, e, em meio a malogro ou a aplausos, sê digno do que traz o seu nome.

Se tua alma, por alguma razão, sentir-se cansada; se a luta te parecer demasiadamente pesada, lembra-te desta verdade que, como pergunta, coloco-te: conheces, por acaso, alguma estação que dure para sempre? Tu conheces algum ato, pensado ou não, que não traga consigo alguma consequência? Tu sabes que, por momentos não pensados, paga-se caro, e coisas longamente construídas podem terminar em um só momento? Passado o momento de privação ou inquietação, verás a grandeza do teu momento presente. O melhor que tens ainda a construir dependerá de como estiveres administrando este teu atual momento.

Eu te peço que não te fixes demasiadamente em nenhuma estação, seja ela outono, inverno, primavera ou verão. Tudo vem com o seu tempo e lição, tudo tem sua dor e seu encanto, tudo pode ou não acontecer. Estejas, pois, preparado tanto para o planejado quanto para as eventualidades, pois o inesperado é a variável possível do planejado. A estação que estás vivendo, esse tempo que estás atravessando, traz consigo algo de positivo que é preciso ser percebido, sob pena de, assim não fazendo, continuares à procura de outros achados, em busca de novos sentidos.

Vou dizer novamente: por acaso, conheces alguma estação que dure para sempre? Considera que mesmo um ato impensado traz grave ou leve consequência. Disso, precisas ter ciência, pois certas coisas que poderão acontecer dentro de ti já começaram a ser geradas, e a maneira como, ainda neste estágio, tu geri-las trará mais repercussão do que possas imaginar.

Pe. Airton Freire

1 de março de 2017
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