A Pa(lavra) de outubro de 2017: Deixaram tudo e o seguiram.” (Lc 5, 11)
“A situação que mais frequentemente ou mais intensamente tens experimentado é que tu te apresentas, ao longo de tua vida, como um ser de falta. Alguma coisa te falta e, por isso, demandas, buscando o preenchimento, a realização do que se apresenta como uma inquietação, uma insuficiência neste ou naquele momento.
A experiência mais intensa que tens feito ao longo da tua vida é amar ou não amar, independentemente de erros, acertos ou defeitos.
Existe alguma coisa que te mobiliza a querer, e para isto nem sempre encontras explicações nesta ou naquela forma de ser e proceder. Tu, por vezes, sentes-te impulsionado a fazer ou a querer o que, interiormente, não desejas.
Existem coisas que, há muito, já deverias ter deixado, mas a elas te apegas para que de ti não fujam nem saiam de teus cuidados. Tu te percebes, por vezes, como um ser dividido, como se um hiato houvesse entre o teu querer e a tua vontade.
Existem coisas que estão em ti presentes, mais fortemente, do que a tua própria vontade, de sorte que não te sentes total e interiormente livre para pôr em prática um projeto em que acreditas e que tens, há muito tempo, planejado. Essa insuficiência gera em ti, por vezes, um estado de insatisfação que transborda para alguns aspectos de tua vida, fazendo com que não te sintas à vontade nem te percebas por inteiro quando tens que enfrentar determinadas situações.
A experiência mais intensa da qual participas é a de que és um ser de falta. Alguma coisa em ti busca o sentido de ser, e outras coisas te acontecem para além do que tens almejado ou para ti mesmo programado, contrariando tua mais íntima vontade.
Por seres faltante, tu és demandante, em busca de preenchimento desta falta. Teu intento se dirige para algo que possa obturar esse hiato, esse espaço de ausência, e, quando não consegues, buscas outros preenchimentos nem sempre compatíveis com tua própria vontade.
A experiência mais intensa da qual participas é que tu és um ser de falta e que precisas te administrar, pois, se não administrares a ti, primeiramente, como haverás de administrar o que exteriormente a ti está? Grava bem o que te digo: se não administrares a ti mesmo, enquanto ser de falta, não saberás lidar quando o inesperado vier te visitar. Guarda: o inesperado é a variável possível do planejado. O inesperado tem, ao menos, dois lados, e com um e outro, em tua vida, tu precisas saber lidar.
Enquanto seres de falta, todas as pessoas precisam, primeiramente, consigo mesmas saberem lidar. Do contrário, vão se deparar com perdas à vista, sem saber aonde tudo isto vai levar.”
(Pe. Airton)
“É preciso viver a transitoriedade das coisas, sabendo que, nelas, pode-se decidir o que é definitivo. Em meio à transitoriedade em que nós vivemos, existe algo que vai se formando, que vai se constituindo e que se mostrará, afinal, como linha mestra, como linha central, a face do que vivemos. Os instantes, as ocasiões, os momentos vividos formarão, no conjunto, o plano de tua vida, o objetivo que tu tens perseguido. Tu não podes viver, nos tempos de agora, administrando o sem sentido, como se administrasses o caos. Tu deves saber que, mesmo nas cicatrizes, a partir do teu posicionamento, no teu olhar, haverá, nisso, um sentido. Sentido em tudo que existe, ao menos como lição, há. Mesmo da dor, fica a lição. Há sofrimento que nos aproxima, que nos faz mais irmãos. O certo é que o tempo da provação, esse tempo passará, pois não fomos criados para sermos provados, testados, como se além disso esperança jamais houvesse, como se sempre para a dor tivéssemos sido criados, dor que continua, dor que não cessa. Se for preciso, eu prefiro a dor a viver a ilusão. Se for preciso, eu prefiro viver a realidade, onde eu cresço, a viver um faz de conta.” (Pe. Airton)