“‘O desejo de meu Pai’, disse, certa vez, Jesus, ‘é que nenhum deles se perca’ (Jo 6, 39). Infelizmente, possibilidades de perdas existem, mormente para os que amam, porque se tornam mais vulneráveis. Possibilidades de perdas existem para os que se negam a amar, sobretudo porque não se cativam nem se permitem cativar. Possibilidades de perdas existem para todo ser de desejo, para todo aquele que deseja, porque, ao desejar, poderá, nos objetos, vir a se alienar, sobretudo quando elege o objeto como aquele que fará, de sua falta, a obturação. ‘Tu obturarás a falta que há em mim, tu fecharás a cicatriz que trago comigo, tu me trarás a redenção’. Este é o discurso da alienação. Agora, se juntos caminharmos como faltantes, como demandantes, com reconhecimento da brecha que trazemos nós, com certeza, chegaremos aonde nos propusermos chegar, se a graça de Deus nos permitir e se anos de vida ainda tivermos até lá. Eu queria te pedir que, pelas perdas, não viesses tu totalmente a te perder. Que pudesses fazer de tuas perdas atos de ganho, porque, mesmo perdendo, poderás ganhar. Eu queria, também, pedir-te que não pedisses a Deus a graça de conseguir e, uma vez conseguindo, não soubesses como lidar, porque sofrerias por chances mais uma vez perdidas, talvez não mais encontradas. Se quiseres atualizar, numa situação nova, uma situação já passada, perderás a riqueza de descobrir o encanto da situação presente, porque sobre ela farás uma superposição. E, querendo resolver questões da mente, tu te perderás por razões do coração. Pois aqueles que só vivem para a mente podem morrer, podem se perder pela frieza dos cálculos, pela ausência de emoção. E aqueles que vivem só pelo coração correm grandes riscos de sofrerem os riscos e os perigos da paixão. Mantém, pois, o equilíbrio entre coração e mente; e que não diga a tua boca o que teu coração desmente; e não se ocupe o teu pensamento daquilo de que não participa o teu coração. Do contrário, sofrerás perdas e danos, ao invés de ganhos e superações.” (Pe. Airton)