“O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde ele vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.” (Jo 3, 8)
É tão possível quanto provável que muito do que aconteça fuja ao que de melhor tu tenhas planejado. Existe sempre algo que escapa ao que tu davas como certo, ao que esperavas ver executado. Existe um ‘princípio da indeterminação’ que faz com que algo sempre possa fugir ao controle em toda e qualquer situação. Se esses elementos de indeterminação forem um considerável percentual, tu poderás não perder o controle, mas contar com uma grande parcela do imprevisível, quando tiveres de tornar algo executado. O princípio da indeterminação implica que sempre algo poderá fugir àquilo que tenhas cem por cento planejado. Algo sempre escapará: de tudo o que quiseres fazer, dizer ou pensar, não poderás, in totum, prever, quer partindo de lá, quer vindo de cá. Hás que ter, em tal situação, reação compatível com o factível. Precisarás pôr em execução o princípio da complementariedade. Por ele, haverás de admitir que é a tua diferença com a outra diferença que podem fazer a riqueza do momento surgir, pois, se fosses igual aos demais, nada mais haveria por se fazer. Seriam todos apenas réplicas uns dos outros, o que signi caria a morte. Tu precisas, em tua vida, ter presente que nem tudo poderá acontecer conforme os teus melhores intentos ou planejamentos, o que não significa dizer que não sejas determinado, mas que possibilidades se abrem, e o novo, para além dos teus cuidados, irá acontecer. Se tu guardares, em relação à vida, este olhar, esta compreensão e consequente disposição, estarás aberto a te renovar, a te reciclar, a recapitular antigas posições. Para além do que tu enxergas, muito há da verdade. Ou dito de outra maneira: no que tu enxergas, não se encerra toda a verdade. O que tu vês depende do teu olhar e do ponto a partir do qual tu estejas a enxergar. O ângulo de tua visão não abarca toda a realidade. É necessário, pois, admitir, ao menos, que outra forma de enxergar a realidade existe. Assumir isto evita posição de desnecessário conflito. Ser determinado é também determinar-se ao novo que vai em frente, ao que emerge de diferentes situações, mesmo que sobre isso não tenhas pensado previamente. O novo também emerge a partir daquilo que por ti não tenha sido antecipado. O princípio da indeterminação é que faz o novo, de contínuo, ser emergente. Não feches questão, mas tenhas determinação para querer olhar e enxergar o diferente. Eia, avante! Em frente!
(Pe. Airton)
“A palavra, humanamente dita, não recobre, ao se dizer, toda a realidade. A partir dela, contudo, estabelece-se um interdito, um divisor de águas. Se não for dita, muita coisa deságua. Não é a palavra, todavia, a única via de comunicação. O sujeito de fala, mesmo quando nada diz, produz gestos, atos, sinais postos a serem decifrados, que remetem à verdade, a fim de que se estabeleça um vínculo, um pacto, que resulte num ponto que o coloque mais próximo à sua própria realidade. Que à verdade ligue-se tua fidelidade. Ao que acreditas deves tu fidelidade primeiramente. Depois, estender-se-á isto a quem estiveres ligado afetiva e efetivamente. A verdade da relação entre os humanos torna-os mutuamente ligados. Num mesmo projeto comprometido, decidido, há de se levar às últimas consequências o que se tomar por acordado, resolvido. Nisso está a força do comprometimento. Pela fidelidade passa-se a honradez, amor à verdade, singularidade. Podes tu imaginar se na tua palavra viesses a negar um projeto feito em comum e que somente na verdade poderia continuar? Foi nessa certeza da verdade do Outro que os discípulos de Jesus disseram: “esta noite, nada pescamos; mas, na tua palavra, lançarei rede ao mar” (cf. Lc 5, 1-11).” (Pe. Airton)