Algo acontece, em termos psíquicos e fisiológico, para aqueles que fazem o uso da máquina (celular, computador, artefatos), por meio dos quais a fantasia ocupa lugar de destaque.
Há quem faça uso da internet para realizar o desejo de forma virtual. Mas, por sua própria natureza, o desejo, que é constante e estrutural, sempre volta.
Há quem use esses meios como práticas substitutivas, a fim de não atuar no real e entende ser isto um substituto adequado aos primeiros impulsos. Exemplo: Ao invés de trair com alguém, procuram-se meios variados com o auxílio do virtual (fantasia, o que, nisso, a internet auxilia). Sentem-se “acalmados”, numa espécie do que, atualmente, chamariam de redução de danos: “Pelo menos, não estou traindo”, num dizer que faz entender estar substituindo uma prática por outra de “menor efeito em danos”.
Há pessoas que chegam a alimentar o virtual, de tal forma, que o tangível do convívio humano torna-se-lhe secundário. Vão migrando para a outra margem da cadeia cursiva e bordeando o limite entre o real e o pulsional. Enquanto assim agem, não abordam a questão em foco, o que deriva nessa atuação substitutiva.
A solução de algo está em colocar algo que lhe substitua? Um alívio tensional sem envolvimentos afetivos, que não compromete, não engravida, não é visto nem comentado, produz endorfina, serotonina, adrenalina… ali acontece. Fica só o vínculo condicional de voltar à máquina, quando o desejo – que é real – emergir outra vez.
Essa é a estrutura psíquica e fisiológica que vai sendo organizada em torno da falta, do desejo e da máquina (substitutivo do humano) em tempos atuais, esses a que chamamos hoje. Os substitutivos das relações humanas tangíveis, atravessados por sentimentos e compromissos, vão ganhando espaço e consolidando-se, em tempos atuais, introduzindo, nas relações interpessoais, novos elementos até então desconhecidos.
Há de ser aberto um debate em torno deste tema, sem o que não haverá como ater-se ao tão-somente superficial desse tema. Sobre isto minimamente comenta-se, muitos atuam e poucos reagem, de forma bem fundamentada, a estas questões colocadas, antes vivenciadas, nestes tempos.
(Pe. Airton Freire, psicanalista | Em 17.02.2018)