Hoje, 18 de Junho, a Igreja Católica no mundo inteiro celebra uma importante solenidade que reveste o mistério central de sua fé: Corpus Christi. Neste dia, celebra-se o Santíssimo Sacramento do Corpo e do Sangue de Cristo.
A origem da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo remonta ao século XII. A Igreja sentiu necessidade de realçar a presença real do “Cristo todo” no pão consagrado. Esta necessidade se aliava ao desejo do homem medieval de “contemplar” as coisas. Surgiu nesta época o costume de elevar a hóstia depois da consagração. Disseminava-se uma controvertida piedade eucarística, chegando ao ponto das pessoas irem à igreja mais “verem” a hóstia do que para participarem efetivamente da eucaristia.
A Festa de Corpus Christi foi instituída pelo Papa Urbano IV com a Bula ‘Transiturus’ de 11 de agosto de 1264, para ser celebrada na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade, que acontece no domingo depois de Pentecostes. O Papa Urbano IV foi o cônego Tiago Pantaleão de Troyes, arcediago do Cabido Diocesano de Liège na Bélgica, que recebeu o segredo das visões da freira agostiniana, Juliana de Mont Cornillon, que exigiam uma festa da Eucaristia no Ano Litúrgico.
Juliana nasceu em Liège em 1192 e participava da paróquia Saint Martin. Com 14 anos, em 1206, entrou para o convento das agostinianas em Mont Cornillon, na periferia de Liège. Com 17 anos, em 1209, começou a ter ‘visões’, (que retratavam um disco lunar dentro do qual havia uma parte escura. Isto foi interpretado como sendo uma ausência de uma festa eucarística no calendário litúrgico para agradecer o sacramento da Eucaristia). Com 38 anos, em 1230, confidenciou esse segredo ao arcediago de Liège, que 31 anos depois, por três anos, será o Papa Urbano IV (1261-1264), e tornará mundial a Festa de Corpus Christi, pouco antes de morrer.
A ‘Fête Dieu’ começou na paróquia de Saint Martin em Liège, em 1230, com autorização do arcediago para procissão eucarística só dentro da igreja, a fim de proclamar a gratidão a Deus pelo benefício da Eucaristia. Em 1247, aconteceu a 1ª procissão eucarística pelas ruas de Liège, já como festa da diocese. Depois se tornou festa nacional na Bélgica.
A festa mundial de Corpus Christi foi decretada em 1264, 6 anos após a morte de irmã Juliana em 1258, com 66 anos. Santa Juliana de Mont Cornillon foi canonizada em 1599 pelo Papa Clemente VIII. O decreto de Urbano IV teve pouca repercussão, porque o Papa morreu em seguida. Mas se propagou por algumas igrejas, como na diocese de Colônia na Alemanha, onde Corpus Christi é celebrada antes de 1270. O ofício divino, seus hinos, a seqüência ‘Lauda Sion Salvatorem’ são de Santo Tomás de Aquino (1223-1274), que estudou em Colônia com Santo Alberto Magno.
Corpus Christi tomou seu caráter universal definitivo, 50 anos depois de Urbano IV, a partir do século XIV, quando o Papa Clemente V, em 1313, confirmou a Bula de Urbano IV nas Constituições Clementinas do Corpus Júris, tornando a Festa da Eucaristia um dever canônico mundial. Em 1317, o Papa João XXII publicou esse Corpus Júris com o dever de levar a Eucaristia em procissão pelas vias públicas.
O Concílio de Trento (1545-1563), por causa dos protestantes, da Reforma de Lutero, dos que negavam a presença real de Cristo na Eucaristia, fortaleceu o decreto da instituição da Festa de Corpus Christi, obrigando o clero a realizar a Procissão Eucarística pelas ruas da cidade, como ação de graças pelo dom supremo da Eucaristia e como manifestação pública da fé na presença real de Cristo na Eucaristia.
Em 1983, o novo Código de Direito Canônico – cânon 944 – mantém a obrigação de se manifestar ‘o testemunho público de veneração para com a Santíssima Eucaristia’ e ‘onde for possível, haja procissão pelas vias públicas’, mas os bispos escolham a melhor maneira de fazer isso, garantindo a participação do povo e a dignidade da manifestação.
“Ama a Igreja em qualquer situação; defende-a. Dela nascemos, nela permanecemos e permaneceremos. Ela foi constituída pelo Filho para ser um sinal de salvação. Ela é o Corpo dos que foram congregados e resgatados pelo sangue do Cordeiro. Ela é formada por aqueles que tiveram lavados, nas águas do batismo, os seus pecados. A ela, foram confiados os sacramentos. A ela, foi confiada a Revelação, a Tradição Apostólica, o Depósito da Fé. A Igreja é mãe e mestra e assim permanecerá através dos séculos sendo o que é. Foi a Igreja que nos deu tantos homens e mulheres santos; é a Igreja que é, para o mundo, um sinal, um farol, nau para os extraviados, e busca tornar, apesar de suas falhas, o evangelho vivido e, entre os pobres, praticado. À Igreja, nossa mãe, tu acrescentas, com os teus pecados, os seus pecados; tu a elevas em santidade com a tua santidade. Ela tem e terá as feições que tu tens ou vieres a ter. Ela te gerou, ela te congregou, ela te aceitou e de ti espera e por ti espera. Ao longo da história, teve seus pecados, como, ao longo de tua vida, tu cometeste falhas e falhas; como uma família que erra; como pessoas que cometem infidelidades. A Igreja andou fraquejando e, mesmo em momentos tão obscuros, como se caminhasse no escuro, ela mantinha em seu seio a chama que nunca se apagava. Foi nessa Igreja que Deus se revelou aos seus Santos; foi nessa Igreja que os mártires derramaram seu sangue; foi nessa Igreja que Deus enviou seus Profetas com suas mensagens válidas para os tempos de então e todas as épocas. Ama a Igreja do Senhor, pela qual ele se entregou como um amado que ama a sua amada e deseja vê-la pura, sem mácula, a fim de desposá-la no mistério nupcial.”
Pe. Airton Freire