“Seja, porém, o vosso falar: que teu sim seja sim, e que teu não seja não; porque o que passa disto é de procedência maligna.” (Mt 5, 37)
Quando tiveres tu de tomar uma decisão, que seja de forma a não agredir nem a tua mente nem o teu coração. Para isto, o teu sim deve ser sim, e o teu não há de ser não. Tu não podes decidir de forma que, internamente, venhas a te dividir. Tu precisas tomar uma decisão de forma coerente e nunca esquecer que isto concerne a um reto proceder.
Quando tiveres de tomar uma decisão, faze-o com coerência, sabendo que um preço haverás de pagar por agir de determinada maneira, assim como poderás pagar se mantiveres o que não tem sustentação. Tu precisas agir com equilíbrio, de maneira que o elemento em relação ao qual se decidiu tenha continuidade, no que de ti depender, ao longo dos anos que terás ainda para viver. Para bem mais além de ti, haverá de acontecer o fruto de tua decisão, que o tempo presente em si não poderá conter. A decisão que vieres a tomar trará, em tua vida, consequências para o imediato e para o que dali virá. Disto, muitos participarão, direta ou indiretamente, a depender de quanto nela estiverem presentes eficiência e amor concomitantemente. Pede-se de ti discernimento, antes de qualquer tarefa que traga a marca de ser duradoura. Nisso, hás de ter claro posicionamento acerca das linhas-mestras que nortearão teu procedimento. Disso não poderás te furtar; isso não poderás protelar; pois, assim fazendo, um bem maior não haverias de realizar e até um mal poderias causar.
Aguerrido é quem decide coerentemente, deixando em aberto a possibilidade de avaliar, posteriormente, o curso dos acontecimentos em face de assumidos posicionamentos. Sem juramentos preferencialmente.
Pe. Airton Freire
“E, quando saíam, encontraram um homem cireneu, chamado Simão, a quem obrigaram a levar a sua cruz” (Mt 27, 32).
À medida que se vive de si para si, como ser isolado, gera-se um sofrimento, um descontentamento por não ter o melhor de si com o outro partilhado. E, somente a custo, e quase sempre com substitutos inadequados, consegue-se suportar o peso de viver esta desnaturalidade. Não partilhar o que de melhor em nós existe é algo que em ti ainda persiste e em mim insiste. E aí um sofrimento vem ocupar um espaço que não deveria, necessariamente, ocupar.
Se tu te propuseres a chegar a algum lugar sozinho, isolado, jamais poderás realizar, nas melhores intenções, o objetivo de conhecer e viver um bem partilhado. Embora, quanto a isto, a decisão seja tua, só a partilha há de enriquecer-te, fortalecer-te e estabelecer-te no ponto de superar-te em uma fraqueza tua. Na relação a dois, por exemplo, tu poderás dizer: “Os pontos que em mim forem falhos, tu poderás me levar a esclarecer e fortalecer. E os pontos que em ti forem deficientes, eu poderei, de minha parte, ajudar-te a vencer”. Nos limites e nas potencialidades que experimentamos, nós poderemos vencer e executar um projeto em que tanto tu quanto eu acreditemos e, mesmo quando enfraquecidos, nele ainda possamos crer. Mas, se permanecermos isolados, cada um vivendo por seu lado, deixando um projeto em comum à revelia, haveremos de trocar a noite pelo dia e separados viveremos, mesmo estando lado a lado, como de não raro vem acontecendo.
A necessidade de superação se faz presente, exatamente, a partir do limite experimentado, quando se partilham nós em ocasiões em que esbarramos em algo e não podemos ir em frente. Por isso, a proposta que te faço é de não vivermos isolados, mas de partilharmos as nossas fraquezas e potencialidades, como condição de revigorarmos o antigo projeto novamente e, se isso vier a acontecer, razão terás tu, também terei eu, para desatarmos os nossos nós e recuperarmos, como havia antes, a alegria de viver. Isso eu te proponho. Não é tão somente um sonho; é um projeto de vida, uma forma de ser, de estar, um jeito de viver.
Pe. Airton Freire
“Estabelecerei uma aliança entre mim e ti e tua descendência depois de ti em suas gerações, por aliança perpétua, para te ser a ti por Deus, e à tua descendência depois de ti” (Gn 17, 7).
Existe uma relação entre o ouvir e o falar. Fala-se a partir do que se ouve. Se difícil for, para ti, por exemplo, a escuta, tropeçarás na fala. E se tu falares de coisas que não conseguiste escutar, com certeza, tu te enganarás, a outros prejudicarás e a lugar nenhum, senão ao obscuro das perdas, levarás.
Existe uma relação profunda entre o ver e o julgar. O teu julgamento se faz diante do que tu manténs um posicionamento. Se estiveres com as razões do coração mais diretamente envolvido, parcial ou total será o “pré-juízo”, tão difícil assim será emitir um juízo de real valor. Há ainda que se considerar: estreita é a relação entre aquilo que tu consegues falar e aquilo que tu consegues enxergar. Fala-se, às vezes, do que não se enxerga e enxerga-se o que não seria objeto de se falar. Existem coisas que tu enxergas e que a palavra não te socorre para que possas expressar. Pois limitado é todo dizer quando pretende dizer do todo. Limitado em algum ponto haverás sempre de ser, quer no ver, julgar, agir ou falar. Se nisto pensasses, primeiramente, evitarias grandes sofrimentos. Se agisses com cautela acerca de determinados acontecimentos ou mesmo posicionamentos, com certeza compreenderias que os que agem pela verdade mais sincera não se tornam reféns da própria fantasia, nem dos não ditos que se tornam malditos, nem de tudo o quanto tiverem deixado por fazer um dia. Por razões quaisquer, não sejas tu prejudicado nem consintas, tampouco, em prejudicar.
Em algum momento de tua vida, terás de decidir entre ir e ficar, entre parar ou prosseguir. Em algum momento de tua vida, tu vais precisar fazer uma parada, como condição para dar prosseguimento à tua jornada, como uma necessidade de avaliar o que até então tenha sido feito por ti, em ti e para ti. Em algum momento de tua vida, tu vais ter a compreensão clara do que viveste até então. Acontecimentos, por meio de sinais, falam e dizem, afinal de contas, qual haverá de ser a melhor decisão, o certo.
Qualquer que seja a decisão de caráter permanente, forte, que tenha na Aliança o seu referencial estável como condição. A Aliança, a que se estabelece entre ti e o teu Senhor, é que vai balizar os teus atos, e eles serão referendados e por Deus aceitos por quanto ali estiver presente o desejo de acertar em razão de teu amor.
O que Deus, afinal, haverá de levar em conta não é tanto o que fizeste inúmeras vezes a perder de vista e de conta. O que para o Senhor interessa é que tu possas decidir a partir da Aliança que ele deseja contigo estabelecer. Esta Aliança, fundada na confiança, a que acontece no coração, precisa uma vez ser referendada a partir de atos condizentes com a tua primeira decisão. Tu não podes estar aqui desejando estar lá; tu não podes estar lá desejando estar aqui; porque, lá ou aqui, dificuldades sempre haverás de encontrar. A questão que se coloca é esta, e a partir dela tu precisas pensar: os atos que te têm acompanhado referendam ou negam a Aliança feita, primeiramente, no coração? Sobre isso, convém que penses e, quando tiveres de decidir, leva em conta esse elemento que é de fundamental importância em qualquer circunstância.
Para onde quer que conduzas a vida ou ela queira te conduzir, se for a Aliança o elemento balizador, que tenhas tu a certeza de que, malgrado a aspereza ou malgrado tempos de bonança, o Senhor será o primeiro a levar a bom termo a obra iniciada em ti. Se tu pensares dessa maneira, terás a certeza de que passos certos haverás de dar, malgrado nem tudo esteja acontecendo à tua maneira. A Aliança será o fundamento, em qualquer momento, pois, feita na confiança – aquela que se inscreve no coração, no desejo de partilha, na cumplicidade -, presente será em todo o teu agir, pensar, sentir. Em qualquer outra atividade, fora disto, estarás correndo grandes riscos de decidir a partir de alguns elementos, com certeza, mas sem a consistência do que, desde antes, firma-se em ti incondicionalmente.
Pe. Airton Freire