“Ao longo de uma caminhada, pode-se perceber, nas paradas, que ditos efetivados, podem, em atos, ser desditos, quando verificados. Existem razões, a cada parada, para se rever aquilo que fora, um dia, motivo de se crer. Por razões outras, posteriormente apresentadas, pode-se reposicionar frente ao que não se tenha conseguido, tempos antes, compreender. O limite da condição humana é frágil tanto (assim o somos!), que algumas vezes, ou de vez em quando, do óbvio costuma se esquecer. Não é preciso até que, em alguns momentos, certos acontecimentos sirvam para nos acordar ou lembrar? Para melhor enxergar, há quem prefira se aproximar; outros preferem certa distância conservar. Os que migram levam algo sempre consigo. O tempo de ir será, depois, o tempo de ficar. Senhor da razão, sendo o tempo, poderá miragens dissipar. Quem das esperas faz-se de cuidados acompanhado, poderá, no tempo devido, reverter em júbilo traços não pacificados.” (Pe. Airton Freire)
“Desertos de fé hás de atravessar, deserto de pessoas mesmo quando aglomeradas possam estar. Quando não há mais o que se falar, desertos há. Quando tudo comunicado e nada modificado, desertos há. Deserto quando se quer acreditar e não se encontra como, nem por onde começar. Sensação repetida que ressoa distorcida, de tanto mal ouvida, a martelar, a suplicar, a querer mostrar, a querer viver, a se conter, precaver-se. Para quê? Desertos há quando em miragens se acredita. Sufocado pela solidão, sem receber nem partilhar o pão, segredos do coração, aí desertos há ou não? Por silêncios habitado ou silenciado, onde se haver? O que guardar, o que largar, se aos desertos o coração não quer ceder? Tudo tem dois (ou mais) lados. Atravess(ando) que deserto estás? Deve-se teu deserto ao que és ou ao que te tornaste desde quando então? Há, contudo, o lado luminoso da questão, avesso do que leva à profunda solidão: apesar de árido, purificador; malgrado ser de travessia, ensina na carência (forma de dor) que, permanente, na vida, só o que traz a marca do amor.” (Pe. Airton Freire)
“É preciso fechar o ciclo de determinados acontecimentos a fim de dar espaço a outros. Assim como o vento espanta o calor do dia e o mormaço da última estação, o sopro do espírito refrigera as moradas e espanta os antigos fantasmas. Ele estabelece contato entre o terreno e o espiritual, a fim de que este chão, esta terra, pelo sopro orvalhado, seja fecundado.” (Pe. Airton Freire)