“O coração é um espaço em que tanto amor e ódio podem ser cultivados; é o lugar onde decisões podem ser tomadas, algumas até são proteladas. O coração é o espaço de ganhos e perdas, de elevação e perdição. O coração é espaço a que sempre se pode fazer à verdade alusão; pode ser o lugar aonde o amor venha ou tenha sido renegado, onde haja ou não lugar para o perdão. O amor, quando no coração fizer morada, poderá expulsar dali o que com ele não puder conviver, coexistir. Cuida da melhor parte que trazes contigo. Cuida que não venhas tu a fazer dos teus próprios atos teus maiores desmentidos, o que não faria sentido. Cuida que não te venha a faltar o que, para tua vida, equivale ao próprio ar. Viver apenas por viver, passar apenas por passar, verem sucederem os dias, como uma sequencia de atos que não são interrompidos, mas destituídos de sentidos, isso poderá vir a acontecer. Se o coração em teu peito for abafado, aos poucos morrerás sem ter vivido, lentamente e com dor. É o amor que te restitui a alegria; é o desamor que te faz abrir o peito qual sangria. É o amor que pode te salvar, curar, livrar do atordoamento e ter que, em certos momentos, ocasiões, dar resposta para aquilo que nem sempre estavas preparado. O amor cicatriza a alma. O amor inflama e, também, acalma. Que não sejas pelo desamor surpreendido. Lembra-te de que o espaço do teu coração é o espaço a ser por ti mais conquistado, o mais cobiçado de toda a riqueza da realidade criada. No teu coração reside o centro de tua decisão.”
Pe. Airton Freire
“A palavra, humanamente dita, não recobre, ao se dizer, toda a realidade. A partir dela, contudo, estabelece-se um interdito, um divisor de águas. Se não for dita, muita coisa deságua. Não é a palavra, todavia, a única via de comunicação. O sujeito de fala, mesmo quando nada diz, produz gestos, atos, sinais postos a serem decifrados, que remetem à verdade, a fim de que se estabeleça um vínculo, um pacto, que resulte num ponto que o coloque mais próximo à sua própria realidade. Que à verdade ligue-se tua fidelidade. Ao que acreditas deves tu fidelidade primeiramente. Depois, estender-se-á isto a quem estiveres ligado afetiva e efetivamente. A verdade da relação entre os humanos torna-os mutuamente ligados. Num mesmo projeto comprometido, decidido, há de se levar às últimas consequências o que se tomar por acordado, resolvido. Nisso está a força do comprometimento. Pela fidelidade passa-se a honradez, amor à verdade, singularidade. Podes tu imaginar se na tua palavra viesses a negar um projeto feito em comum e que somente na verdade poderia continuar? Foi nessa certeza da verdade do Outro que os discípulos de Jesus disseram: “esta noite, nada pescamos; mas, na tua palavra, lançarei rede ao mar” (cf. Lc 5, 1-11).”
Pe. Airton Freire
“É preciso descobrir, discernir, chegar às motivações do que te faz agir. O que te faz agir assim da forma como tens agido, viver da forma como tens vivido? Eu preciso, para isso, encontrar uma explicação e, se possível, diante de Deus reordenar-me, porque, anos a fio, não dá para viver como tens vivido – atualizando o que, em ti, não foi resolvido. Não é possível perpetuar uma situação para cuja continuidade não há plausível razão. Eu preciso da sabedoria do Senhor, mesmo que, para decidir, implique este ato em certa parcela de dor. Eu tenho que estancar essa sangria. Não posso viver mais à revelia; não posso viver administrando o que foge ao meu querer, o que não me dá nenhuma garantia. Não posso mais viver passivamente, esperando qualquer coisa chegar ou sofrendo por antecipação sobre coisas que eu nem sei nomear, nem sei como explicar. Eu preciso assenhorear-me da situação, porque Deus, ao criar tudo o que criou, fez de mim imagem e semelhança sua, ápice de sua criação, deu-me o seu Filho por irmão e pôs no meu peito o espírito de reconciliação. A viver de certa forma, em alguns aspectos, como eu tenho vivido, eu não poderei mais continuar. Eu tenho que tomar uma decisão, e aquele que me segura, aquele que me fortalece é Cristo Jesus, o meu Senhor, aquele que já deu por mim a maior prova de amor; é nele em quem inteiramente eu posso confiar.”
Pe. Airton Freire