“Os que defendem fendem, ao fazê-lo, o fato (o acontecido) do dito. Pois toda a verdade não cabe em nenhum dizer. Arde, ainda mais por ser. Quer ser. Vê? Há uma dissensão entre o ser (do latim esse) e a ação. O que con(fere) sentido à pa(lavra) lavra o campo onde for ben(dita), mal(dita), des(dita), re(e)ditada. Todo aquele que diz algo se coloca em determinada posição em relação ao enunciado. Ninguém é neutro. Não há fato isolado. Tudo há de ser analisado ao menos pelos dois lados. A pa(lavra) que se de(fende) fende enquanto lavra; lavra enquanto fende. Diante de que, de quem, como, quando e por que se colocar? Viver não é, como na palavra, um ato de se posicionar? Posicion(a)da mente. Mas a mente mente. O que dizer? O que diz ser, não sendo? A verdade de fazer está no ser. Muito fazem os que nada falam, mas muito dizem, sendo. Viver é ser inter(pelado) a cada momento. Até que a verdade nua dos atos apareça finalmente.” (Pe. Airton)
“A quebra da unidade interna pode acontecer quando, de repente, ou já previamente avisado, alguém se vê num momento de descontinuidade acerca do que nem queria que viesse a acontecer. Por alguns fatos, pode alguém ser surpreendido; sobre outros, por meio de sinais, já poderia ter sido avisado. Acontecimentos falam; precisam ser ouvidos. Internos são os movimentos da alma. Sinais externos precisam ser lidos, como um texto do qual emergem recados. Uma determinada tendência de encaminhamento em uma precisa direção, quando começa a acontecer, pode resultar em algo (in)desejável de que é possível ainda precaver-se. A tendência de teu coração mostra também o que, internamente, há em mutação. Está em ti, afinal de contas, decidir. Informações tu podes ter, mas a ti, tão somente a ti, compete a última palavra, o encaminhamento do que te concerne vir a acontecer.” (Pe. Airton)
“Tu precisas ser cauteloso acerca das coisas que consentes entrada em teu coração. Atento precisas estar a que tua forma de ser possa espelhar, afinal de contas, os valores que mais profundamente em ti são dignos de se crer. Não dês a tudo consentimento ao teu coração, pois, de lá, partem as maiores decisões, que são responsáveis por quedas ou soerguimentos, por alegrias ou sofrimentos. Teu coração, oásis que é, em meio à crescente desertificação, é o recôndito mais particular de tua morada. Se a tudo deres entrada, o que será de ti? O que dali procede resultará pró ou contra ti? Cuida das entradas e das saídas do teu coração e equilibra teu sentimento com o que vem da razão. Se ambos de mãos dadas caminharem, se a tua razão com o coração andar equilibrada, farás uma longa jornada, não livre de percalços, mas na certeza de que a obra será, enfim, realizada. Mas, se, ao longo da caminhada, fizeres tu concessões e deres entrada ao que valor algum, forma razoável, à razão concede, teu coração, réu, então, tornar-se-á. E, ao ser precipitado em grandes dificuldades, verás que tu serás o próprio caçador de ti e assistirás a teus inimigos, poucos ou muitos, rindo-se de ti. Tropeçarás com teus próprios pés, viverás uma situação criada por ti como os que vivem o revés sem saber de si. Volto a insistir nesta afirmação: “A tudo, não dês entrada ao recôndito mais particular do teu coração”, porque, uma vez aí tendo se estabelecido, haverá de querer fazer parceria contigo e fazer dos teus ditos desmentidos, dos teus atos momentos a serem balizados ou avaliados pelas razões de quedas ou perdas de sentido.” (Pe. Airton)